A Quito de tantas cores

 Quito é daquelas cidades sul-americanas que não decepcionam o turista: você encontra ali, e logo de cara, toda a muvuca de gente nas ruas, barulho, trânsito caótico, cheiros de frutas que você não reconhece no ar, caras de todas as etnias, roupas multicoloridas, ruas empoeiradas e táxis velhos que você esperava mesmo ver.

 Além das línguas de diferentes turistas, o espanhol está o tempo todo misturado com o quechua nas ruas. Se você rumar direto do aeroporto para o centro da cidade, melhor ainda: você encontra tudo isso junto e misturado, tudo ao mesmo tempo.

 Quito tem uma geografia curiosa, de tantas subidas e descidas, ladeiras e escadarias, para acompanhar todos os morros e montanhas pelos quais se esparrama sem cerimônia – e tudo isso com direito a vulcões rodeando a cidade, é clara.

 Do avião (vale sentar na janelinha) a gente já fica impressionado em como a cidade consegue ser tão estreita e ao mesmo tempo tão longa e esparramada.  Se o tempo estiver bem limpo, vale subir no TeleferiQo para ver também – mas eu, particularmente, curti mesmo foi subir no monte da “Virgem de Quito”, a estátua que “abençoa” a cidade como um Cristo Redentor, para ver a cidade lá do alto (à noite é mais impressionante ainda).

 E a cidade se divide, de uma certa maneira, em muitas outras cidades, já que cada um de seus bairros tem características tão próprias e tão marcantes; o Centro Antigo e a “gringolândia”, que é como o bairro de La Mariscal também é popularmente conhecido pelos turistas, são as duas mais obviamente exploradas pelos turistas.

La Ronda que, de noite é puro bar e agito…
… de dia é cantinho querido das crianças, pelo monte de brincadeiras espalhadas pelo chão

 O Centro, que, dizem, antes assustava pelo descaso na conservação e pela insegurança profunda nas noites, hoje virou um belo espaço de convívio: fiquei hospedada ali e não me arrependi nem um pouco (super policiado durante o dia e muito bem iluminado durante à noite, só depois das 21h é que o movimento nas ruas fica bem escasso e, como em qualquer cidade grande sul-americana, convém tomar um táxi para voltar ao hotel).

Andando pelo centro histórico, você se depara com esses pátios internos lindos, geralmente com um café

 Ali estão concentradas a maioria das atrações: as igrejas cobertas de ouro (San Francisco e a Companhia de Jesus são absolutamente impressionantes), os museus (a Casa del Alabado é ge-ni-al), as praças mais famosas (como a San Francisco e de la Independencia, que são o coração da cidade), o mercado, os prédios do governo, o comércio popular.

O imperdível Casa del Alabado

 A vida gastronômica está no fofo e super bem urbanizado La Floresta, que reúne os melhores restaurantes e também os barzinhos mais descolados, de “intelectuais” (gostei muito do restaurante Lua e do bar El pobre diablo). E a vida noturna mais “fuerte” fica em La Mariscal, que é o bairro que concentra o maior número de hotéis, pousadas e albergues da cidade – e também a Feria Mercado de La Mariscal durante o dia, que eu recomendo muito para quem quer comprar lembrancinhas a preços baixos, sem sair da região central da cidade.

 Vida noturna no centro também rola, sobretudo na rua conhecida como La ronda, que reúne uma infinidade de barzinhos – mas dali precisa ter mais atenção na hora de voltar pro hotel, que fica muita muvuca.

Quito vira só um emaranhado de luzinhas ao anoitecer
A Virgem Quiteña e a lua

 No dia-a-dia o trânsito pode ser bem difícil, debaixo de chuva a cidade fica muito triste e sem graça (foi assim que eu vi Quito pela primeira vez, logo ao desembarcar) e à noite os taxistas são osso duro de roer.  Mas, mesmo que você se hospede na gringolândia, volte sempre ao centro. Eu virei fã.  Saí dali na maior parte das vezes só para jantar em outras bandas (e uma noite jantei ali mesmo, no ótimo Theatrum).

 Ali, do nada, você pode ser surpreendido com um grupo folclórico apresentando danças no meio da praça, como eu fui; ou acompanhar o comércio cotidiano no mercado; conversar com as “índias” (como as chamam vários equatorianos) que vendem legumes e frutas nas calçadas, ou com o tiozinho que está lendo jornal e engraxando sapato, ou com um café gracinha com romântico pátio interno e ótimos quitutes.

 E tudo isso sem o assédio tão comum a outras cidades parecidas; em Quito ninguém me abordou tentando vender nada nem muito menos me pedindo nada. Nem ninguém me pediu dinheiro para ser fotografado; pelo contrário: em alguns casos, parecia até haver um certo orgulho nisso.

Que os quiteños são muito, muito simpáticos eu já falei antes. Mas deixo aqui registrado também que a cidade, apesar de várias “más referências” que li e ouvi antes de viajar de alguns amigos, me encantou.

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