Antártica: Deception Island

O dia amanheceu cinzento e cheio de névoa, mais ou menos como nosso espírito ao sair da cama: Don tinha comentado no morning call, as 4h30 da matina (!),  que esse era nosso último dia de desembarques e já descemos para os zodiacs saudosistas da viagem que ainda não tinha nem acabado.

A Janela de Netuno bem no meio da imagem

Deception Island, ou Ilha da Decepção, era a minha escala mais esperada durante a viagem à Antártida. Leio sobre ela desde que me encantei pelo destino – ela aparece na maioria dos livros e relatos sobre o continente branco. Desde os primeiros exploradores, ela aparece nos relatos como um “porto seguro” para se abrigar das grandes tempestades antárticas (o primeiro registro de uso dela oficial é de 1829, pela expedição britânica de Henry Foster)

O tender do navio pondo um mínimo de cor (no filter, pra vcs verem como estava o climão) naquela manhã cinzenta

O local foi assim batizado, em teoria, pela grande decepção que causou aos exploradores que ali chegaram primeiro: felizes, estavam crentes de encontrar ali uma ilha, porto seguro e, quizás, fértil, e se deram conta depois de que estavam, na verdade, simplesmente na cratera de um vulcão.

Tal vulcão, muitos anos depois, causou sérias perdas para a comunidade científica, quando duas erupções em seguida, em 1967 e 1969, destruiram tudo o que ali existia das bases instaladas – tanto que vemos os restos de suas instalações o tempo todo.

Desembarcamos na prainha chamada de Whalers Bay, justamente porque ali funcionou, no comecinho de tudo, uma estação de caçadores de baleias. O cenário era tão cinza e triste, com todos aqueles resquícios de casas, tonéis imensos de aço (que armazenavam o óleo de baleia ali processado) e barcos, e a névoa cobrindo o topo das montanhas, que eu resolvi fazer esse ensaio quase inteiro em preto e branco.

 

 

A “ilha” que se vê do mar, com o formato circular da cratera do vulcão, tem cerca de 12km de diâmetro e cerca de metade de sua extensão de terra está coberta por glaciares. A geografia curiosa deixou uma espécie de “vão” entre as montanhas elevadas, através da qual se pode ver o oceano – por isso mesmo, chamada pelos exploradores de Janela de Netuno. A caldeira tomara pela água do mar criou uma prainha e o Polar Pioneer, nosso navio, entrou ali justmente pela passagem estreita entre as montanhas, parando de frente para Whalers Bay, de areia grossa e de cor grafite, quase preta.

Turistas australianos leem os avisos numa das casas abandonadas na ilha…
… que dizem que novas erupções podem acontecer a qualquer momento e que turistas estão ali por sua própria conta e risco o.O

O cenário era triste e desalentador em toda parte da cratera, deixando claro que aquilo fora abandonado às pressas, do jeito que deu.

 

Casas tomadas pela neve no lado interno também

 

 

Cruzes, ao fundo, marcam o local onde foram sepultadas algumas vítimas das erupções

 

 

 

 

 

 

 

 

Nem os kayakers, com suas roupas coloridas, me inspiraram naquela manhã na “ilha”

 

Sem filtro PB: paisagem cinza e mezzo prateada ao vivo

 

 

 

Durante as pouco mais de 2h30 que passamos explorando a cratera do vulcão, meia dúzia de pinguins desgarrados apareceu na praia, mas logo se foram.

 

 

 

 

 

Curiosamente, a maioria dos passageiros nunca tinha ouvido falar de Deception Island – o que foi mesmo uma grande deception pra mim, com o perdão do trocadilho. Mas até eles, ao final do passeio, e após explicação dos guias sobre o tema, já estavam completamente envolvidos nas histórias da ilha-vulcão.
Imaginem eu.

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