Das lendas do rei Arthur ao empolgante cenário histórico, cultural e gastronômico, as boas surpresas que a Cornualha reserva ao viajante
É claro que os primeiros registros da Cornualha na minha memória vieram do colégio, sobretudo dos últimos anos do ensino fundamental. Mas fiquei mesmo com essa região inglesa martelando na minha cabeça quando caí de amores pelas lendas do Rei Arthur 😀 Afinal, o que fazer em uma viagem pela Cornualha?
A Cornualha é uma província/condado no sudoeste da Inglaterra que ocupa um península justamente entre o Atlântico e o Canal da Mancha, famosa por seus castelos, vilarejos, praias, herança celta e, claro, também pelas lendas do rei Arthur (sobretudo em lugares como Tintagel onde, reza a lenda, Arthur teria nascido). Até pouco tempo atrás, sobrevivia basicamente de mineração e pesca; hoje em dia, o turismo é a principal fonte de renda da região e quase todo mundo por ali trabalha de alguma maneira ligado a ele.
Embarquei feliz no finalzinho de março último, numa viagem solo a convite do Visit Britain, para conhecer essa pontinha britânica tão especial. Na minha semaninha curta na Cornualha, tive dois day-tours com uma empresa local (a excelente Tour Cornwall, de Tim Uff), mas fiz todos os demais passeios e deslocamentos sozinha – embora, sendo franca, a região não seja território de solo travelers; famílias e casais são maioria por ali. Um carro alugado quebra um galhão, mas se locomover entre as cidades com trens é fácil e gostoso e entrar em day tours também é uma mão na roda para conhecer lugarzinhos mais afastados da rota do transporte público.
Comecei a minha viagem como a maior parte dos turistas estrangeiros faz: por Penzance, que é a parada final dos trens (Great Western Railway) que ligam a região a Londres, numa viagem de cerca de 5h. Penzance é uma graça de vilarejo, e bem mais autêntica (e menos turística) que outras cidadezinhas córnicas, como St Ives. É pacata, quase deserta, com casinhas de pedra, ruelas com antigas galerias comerciais, inúmeras galerias de arte. E é dali que a gente tem acesso a uma das atrações mais icônicas da região: o monte St Michael.
Como se fosse uma miniatura do encantador Mont Saint Michel da Normandia (aliás, a Cornualha toda, em geral, me lembrou muito a Normandia), o St Michael´s Mount é também uma ilha-abadia em meio às aguas de Mount´s Bay, sujeita às oscilações das marés. Foi doado aos monges beneditinos da Normandia, que ergueram ali sua nova capela em 1135 e chegou a servir como fortaleza. Instalado no alto de um rochedo, o mosteiro do século V é conectado por uma espécie de passarela de paralelepípedos que fica submersa na maré alta – e então os turistas chegam ali usando os barcos-shuttle. Lá dentro, destaque para o salão de desenhos gótico-rococós, o arsenal original, a igreja do convento do século 14 e seus jardins subtropicais pendendo dramaticamente sobre o mar. Do hotel onde fiquei hospedada – o charmoso The Godolphin Arms – alguns hóspedes têm vista pra ele de seus quartos. Meu quarto tinha vista só pra cidade, mas durante o café da manhã e os finais de tarde no terraço eu tinha vista desobstruída pro monte, uma lindeza.
As belezas naturais e paisagens com jeito bem selvagem na tão variada e extensa costa estão por toda parte; tanto que durante primavera e verão a região é uma das mais procuradas por quem quer fazer trilhas e curte os dias outdoor. O relevo tão acidentado oferece praias incrivelmente bonitas (com uma cor de mar realmente surpreendente) e falésias escarpadas impressionantes por todo canto. Sem falar nos diversos círculos de pedras à la Stonehenge presentes em vários cantos. O mirante do alto das Bedruthan steps me deu uma das vistas mais lindas da minha vida; e ainda, graças ao Tim Uff, num dos dois dias que fiz day tours com ele, descobri lugarzinhos lindos escondidos, que quase nenhum turista visita, como a Roche Rock, que tem uma capela esculpida no alto de uma rocha no meio do nada. Só lindezas.
Clique aqui para pesquisar preços de hotéis na Cornualha
Em termos de construções, a que mais me impressionou foi o Minack Theatre. O anfiteatro ao ar livre construído (ou, melhor, esculpido) diretamente nos penhascos que se debruçam sobre a baía Porthcurno é legado de Rowena Cade, uma moradora local que teve essa sensacional ideia nos anos 30 e ajudou, ela mesma, a colocar pedra sobre pedra no local por 20 anos e tomou conta do teatro até sua morte em 1983. Hoje, são 750 lugares no teatro que tem uma temporada de espetáculos fixa de nada menos que 17 semanas, de maio a setembro (me contaram que os moradores geralmente aparecem para os espetáculos armados de cobertores, guarda-chuvas, cestas de picnic e vinho, numa boa). Ao longo do ano, recebe visitas de turistas (4 libras) e escolas (no dia que visitei, crianças de duas escolas faziam experiências teatrais no local). E tudo isso com uma vista sensacional para as falésias e o mar de cor esmeralda ao redor.
Grande parte dos turistas explora a região em viagens mais longas com puro trekking e camping, mas há opção de fazer confortavelmente em carro e trem (como eu fiz) e inúmeras opções de hospedagem ao longo do caminho, de albergues a hotéis boutique (não me hospedei nele, mas visitei e fiquei apaixonada pelo badalado The Scarlet, sensacional, melhor hotel que vi na minha semana curta por lá). Entre trilhas (para trekking e bikes), mini portos de pescadores super fotogênicos e cativantes e as praias para onde rumam os surfistas no verão, suas pitorescas aldeias são de cair de amores mesmo, com a identidade tão distinta do povo córnico, sua história, cultura e até língua (essa já em desuso quase total hoje em dia) próprias. Visitei muitas, de Penzance a St Ives, de Padstow a Fowey, e até agora me parece impossível escolher a mais encantadora. E a Cornualha acaba de ganhar ainda mais impulso turístico por servir de cenário para Poldark, a nova série da BBC que já tá ganhando status de Downton Abbey por lá (e trata justamente da herança mineradora da região, cujos resquícios e ruínas ainda são visíveis no skyline).
Clique aqui para pesquisar preços de hotéis na Cornualha
Com vida cultural pulsante, é fácil se perder entre seus museus e galerias, das minúsculas galerias de arte escondidinhas em ruelas de pedra de seus vilarejos a projetos ambiciosos como a Tate St Ives (aliás, a vista do café no último andar do museu é tão bacana quanto a visita de suas salas). E vive um verdadeiro renascimento gastronômico também, com restaurantes premiados excelentes (que vão bem além de seus icônicos Cornish pasty e Cream Tea), que poderiam muito bem estar em Londres. Dois nomes ali são frequentemente associados à nova febre foodie da Cornualha: Jamie Oliver, que levou pra lá seu programa de culinária comunitário (o Fifteen Cornwall), e Rick Stein, o sujeito que hoje é dono de praticamente meia Padstow.
Nos meus dias em Padstow – uma cidadezinha absolutamente encantadora, pequenininha, que caberia bem num day tour também – provei alguns de seus restaurantes (do informal e baratinho Stein´s Fish&Chips ao badalado e meio overpriced The Seafood Restaurant) e visitei também outras de suas propriedades por ali, de loja a padaria e bed&breakfast. O cara é hoje tão famoso na cidade e tanta gente escapa pra lá para provar seus pratos que os locais já brincam que Padstow vai mudar seu nome para Padstein 😀 Gostei muito, muito mesmo de Padstow; carece de opções charmosas para se hospedar mas é uma delícia de explorar caminhando. Junto com Fowey, está entre meus vilarejos preferidos da viagem.
Clique aqui para pesquisar preços de hotéis na Cornualha
Bom, e tem o Eden Project. Como jornalista, eu não podia deixar de conhece-lo, já que o projeto que conta com “as maiores estufas do planeta” foi um dos responsáveis por colocar a Cornualha no mapa de tanto turista desde sua inauguração, em 2001. Você com certeza já viu a imagem de suas estufas publicada em algum lugar. O projeto é mesmo sensacional, com jardins incríveis e três biomas que abrigam plantas do mundo inteiro. Tem inúmeras atividades lúdicas e educativas e é programão para quem viaja com crianças (apesar de ser bem overpriced na minha opinião, custando 25 libras por adulto e 14 por criança com mais de quatro anos). Mas, se você viaja sem crianças e tem pouco tempo na Cornualha, acho que poderia bem ficar fora do roteiro.
Viagem linda. Em cinco dias para conhecer o básico da região; mas, podendo ficar sete, melhor ainda, para fazer tudo com calma. Já quero muito voltar.
Eba! Adorei o roteiro, vou tentar tirar uns dias de verão pra curtir a praia da Cornualha!
Eba! 🙂
Mari, parabéns as fotos são magníficas e o texto genial!!
Há muitos anos, nós passamos por essa área, de moto. Nós embora fosse verão frio. As praias foram incrível, agradável e realmente queria nadar … só que a água estava muito fria. Tenho ótimas lembranças de nossa viagem.
gracias, Carmen! :*
Mari, lindas fotos e texto sobre a Cornualha. Inspirador esse post. Me deixou com mais vontade ainda de fazer seu roteiro.Bjs
Oi Mari, que bom ver você aproveitou bem a viagem a Cornualha! Você acredita que, morando aqui há tanto tempo, nunca estive por lá? Meu contato mais próximo com a região é quando como uma Cornish pasty 🙂 mas com seu texto e fotos deu vontade de providenciar uma viagem já, já.
Abraço!
Oi Mari!
Estou relendo este post pela 3a. vez 🙂
Vou pra Cornwall com meu marido e mae agora em junho, estou procurando acomodacao em St. Ives.
Parabens pelo post, está sendo super util no meu planejamento.
Boa tarde Mari, adorei seu relato.
Quero ir para lá com meu marido.
Gostaria de saber se dá para ficar em penzance por exemplo e pegar excursões para conhecer os demais lugares ou devo ficar hospedada em outro lugar também!não queremos guiar devido a direção! Obrigada , se puder sugerir um roteiro ou um guia lá eu agradeco
Oi, Maria Teresa! A base em Penzance é ótima, mas pode ficar um pouco distante para conhecer algumas atrações. Há fartura de tours oferecidos a partir dali, mas em alguns casos vocês poderiam passar mais tempo na estrada que no destino. Seria legal listar certinho tudo que vocês realmente gostariam de conhecer e daí tentar traçar o mapinha da sua viagem para otimizar os deslocamentos, já que estarão sem carro. Se der pra dividir a estadia em destinos diferentes, melhor – dá para viajar em trem entre os maiores e/ou mais turísticos.