Como foi acompanhar ao vivo o maior festival musical europeu, realizado este ano em Viena
Entendi exatamente o que o Eurovision significa para os europeus enquanto morava na Espanha, em 2009. É claro que eu já tinha ouvido falar do maior festival de música da Europa, que tinha feito a fama de bandas como o ABBA e tal, mas, convenhamos, para brasileiros o festival nunca significou muita coisa mesmo. Foi lá na Espanha, estudando com gente do mundo inteiro, que entendi que o Eurovision era meio que uma copa do mundo musical para europeus em geral – amassem ou odiassem o festival, achassem divertido ou brega, a maioria deles acabava comentando os resultados e torcendo na hora H.
E foi o jornalismo que me levou a acompanhar ao vivo, neste 2015, meu primeiro Eurovision: a convite do turismo da Áustria, fui a Viena, sede do festival deste ano, acompanhar a grande final do evento, realizada no último dia 23 (depois aproveitei a ida a esta cidade linda para esticar a estadia por minha conta, como já comecei a contar pra vocês aqui).
Para quem não sabe, realizado anualmente, o Eurovision é um festival de música criado no pós Guerra justamente com o propósito de um certo pão e circo nos tempos difíceis de então, tentando meio que resgatar o sentido de unidade do continente europeu enquanto o mundo e a própria Alemanha se dividiam entre comunistas e capitalistas. Completando 60 anos de existência neste 2015, nos últimos anos o Eurovision ganhou um status meio cult e também virou um dos festivais mais gay-friendly do mundo. E movimenta loucamente o turismo das cidades-sede do evento.
Cada país participante envia ao festival um representante seu (cantor, dupla ou banda, eleito nacionalmente sob os mais distintos e discutíveis critérios) para participar. Acontece ao vivo cada ano num país diferente mas é televisionado, também ao vivo, para todos os demais. Os participantes se apresentam e juri e público votam em seu preferido e o país vencedor do último Eurovision sedia a competição no ano seguinte. Neste caso, como a ubber Conchita Wurst venceu pela Áustria o festival de 2014, Viena ficou encarregada de receber o Eurovision 2015. E, convenhamos, se incumbiu da tarefa com o maior esmero: cheguei ali quatro dias antes da grande final e a cidade inteirinha, literalmente, respirava Eurovision, dos semáforos temáticos aos ônibus, trams e taxis adesivados, dos avisos by Conchita no metrô às imensas áreas de exibição pública do evento.
Em termos de infra, Viena não precisou fazer nada, é claro; afinal, a cidade já conta com uma excelente rede de transportes públicos há muito tempo – uma lembrança bem presente que eu tinha da minha visita anterior à cidade. De tram, metrô e ônibus, a gente chega literamente a qualquer ponto de Viena, do centro histórico às vinícolas, dia e noite, com segurança.
Em áreas públicas como a Rathaus, foram instalados telões, palcos e barraquinhas mil para as pessoas acompanharem o evento num climão tipo Fifa Fun Fest. Comida e bebida à venda, brindes fartamente distribuídos, e tudo muito bem organizado e civilizado, incluindo grupos imensos de jovens a fim de festa e famílias com crianças pequenas e carrinhos de bebê lado a lado. Como chovia muito nos dias do festival, os patrocinadores ainda se encarregaram de distribuir gratuitamente capas de chuva para todos que passassem pela área.
Diversos bares de Viena também exibiram as semi-finais e a grande final como se fossem jogos de copa do mundo – alguns com direito até a banco informal de apostas 😛 A cidade estava mesmo lo-ta-da para o festival, e a maioria das pessoas circulava por ali com camisetas de suas seleções de futebol ou enrolados por bandeiras de seus países – afinal, mais que torcer por este ou aquele cantor, o Eurovision tem mesmo um pretexto de você torcer, em princípio, pelo seu próprio país.
No dia da segunda semi-final, levaram pela manhã um grupo de jornalistas internacionais – eu incluída – para conhecer as instalações da Stadhalle, o local onde foi realizado o evento. Estrutura impressionante, não apenas em termos de palco e recursos (como câmeras que giravam por literalmente todo o espaço e cordas suspensas que garantiram que Conchita “voasse” sobre o público no último dia), como nos bastidores: camarins gigantes, oficinas de costura imensas para reparos de última hora nos figurinos, lavanderia, monstruosa sala de imprensa etc.
No dia da grande final, ingressando na Stadhalle como qualquer outro convidado do evento, a organização também foi impressionante: muitos, muitos funcionários espalhados dentro e fora da Stadhalle para dar informações e direcionar as pessoas para a entrada mais próxima de sua posição na pista ou seu assento nas arquibancadas. E infra de matar o Cirque de Soleil de inveja em termos de quiosques para venda de bebidas, alimentos e souvenirs.
O clima era uma adorável mistura de Parada Gay+Carnaval+Copa do Mundo. Gente fantasiada em blocos – grupos de amigos, em geral, vestiam as mesmas fantasias ou camisetas-estilo-abadá – e uma profusão de bandeiras de todos os tamanhos. E todos confraternizavam entre si. Apesar dos concorrentes serem só países europeus mais Israel (oi?) e, neste 2015, mais a convidada especial Austrália (!), havia ali gente do mundo inteiro que, em sua maioria, tinha ido a Viena para assistir e torcer pelo Eurovision mesmo – incluindo vários brasileiros armados de bandeiras e tudo que encontrei por ali.
O show teve precisão britânica para começar e terminar – quatro horas entre a sequência ininterrupta de canções, dois showzinhos extras enquanto as pessoas votavam, e a tão esperada divulgação dos votos e vencedores – e tecnologia impecável (justificando a fortuna que se investe no festival todos os anos). Quando você percebe, está já cantarolando alguns refrões e, na votação, acaba mesmo se envolvendo na histeria pública (tipo apuração de escolas de samba no nosso Carnaval 😛 ) em torno do seu candidato favorito.
Dentre várias apresentações bem breguinhas e discutíveis (hehehe), acabou vencendo, numa disputa acirradíssima com a Rússia, o (lindo) Mans Zelmerlow, candidato da Suécia, que era mesmo o favorito do público desde o começo – dá pra ver o videozinho da performance dele aqui. Na saída do evento, também organizadíssima, com fartura de taxis e bondes e metrô logo ao lado, foi incrível ver todo mundo deixando a Stadhalle cantando o refrão de sua canção “Heroes” até entrar no trem.
Sinceramente, curti muito mais do que esperava 🙂
Eu nunca pensei que o Eurovision, do ponto de vista do musical. Normalmente, eu nunca olhei para ele, mas com certeza uma vez lá no meio do show, deve ser divertido. 😉
Isso mesmo, Carmen. Acho que não faz sentido ir pelo ponto de vista musical – sabemos que a qualidade da maioria dos concorrentes é bem discutível. Mas, uma vez lá no meio, é mesmo muito divertido, uma espécie de Carnaval 😉
Oi Mari! Eu estava louco pra ir neste, olha que a gente ia acabar se tropeçando por lá! Eu votei na Geórgia, por gostar muito do país, mas torcia pela Suécia e, lá no fundinho, não me importaria se a Rússia tivesse vencido. Em 2013 participei da gravação do clip da Moldávia, por casualidade, mas não apareci após a edição. 🙁
Ano que vem, quem sabe?
Bora pra Suécia? 😉
Vamos, sim! 🙂
Que incrível esse evento!!!