Quando o terror começa a comprometer planos de viagem
#vamosprafrança é, há algum tempo, a hashtag oficial do turismo da França no Brasil nas redes sociais. Sempre achei bem bonitinho, simples, eficiente. Para quem lê como uma interrogação, como no título deste post, minha resposta é sempre sim – tenho esse caso de amor surreal com Paris, vocês sabem, e a verdade é que também caio de amores por outros cantos do país; então acho a França sempre boa ideia.
Mas tenho visto muitos leitores respondendo essa questão ultimamente com um “agora não, mais pra frente, quem sabe”, com medo de visitar o país depois dos últimos atentados. E tem muito leitor me questionando sobre o que deveria fazer com seus planos de viajar para lá.
Atentados em destinos muito turísticos são um pouco como acidentes de avião: a comoção é ainda maior porque a gente pensa, mesmo que por um instante, “caramba, eu podia estar lá,podia ter sido eu”. Podia mesmo; parte dos atentados de novembro em Paris, por exemplo, aconteceram logo depois de eu deixar a cidade e a poucas quadras do apartamento que eu alugava ali.
É claro que cada um conhece seus medos e seus limites. Quanta gente deixou de ir por um tempo aos EUA (conheço gente que deixou até de voar em companhias americanas) pós 11 de setembro, não é mesmo? Gente que cancelou viagens à Espanha e à Inglaterra na sequência de seus atentados no metrô.
Cada um tem seu tempo, suas prioridades, suas fobias. Acho natural e respeito muito, sempre. Mas quando me perguntam minha opinião pessoal sobre o assunto, ela não muda: para mim, viajar para a França, para a Bélgica, para a Europa em geral, pode e deve continuar nos seus planos. Continua nos meus. Na minha cabeça, o terror não pode afetar meus planos de viagem.
Mas é fato que, desde o atentado no Charlie Hebdo, há mais de um ano em Paris, a França especialmente teve uma queda maior no número de visitantes do que outros destinos europeus. Eu cheguei à cidade dois dias depois do ocorrido, mas hotéis enfrentaram enxurradas de cancelamentos nas reservas em janeiro e fevereiro, depois novamente em novembro e dezembro e agora também, após o ocorrido em Bruxelas. Pós-atentados, muitos turistas têm dúvidas em relação à segurança local – ainda mais com a imprensa internacional falando exaustivamente sobre o assunto e estampando fotos bem pouco inspiradoras dos destinos.
Acabo de voltar de mais uma viagem à França – linda e deliciosa como sempre. Passei dias incríveis sozinha em Lyon, depois uma semana maravilhosa a trabalho entre Courchevel e a região de Beaujolais, até voltar novamente a Lyon para outros dias a mais nesta cidade que me encantou. Como acontece nas melhores viagens, conheci gente interessante, fiz passeios lindos, saí todas as noites, aproveitei as praças ensolaradas nas cidades, curti a neve nos Alpes, comi e bebi muito bem, visitei museus incríveis, usei o transporte público, andei de táxi, gastei a sola da bota caminhando pra lá e pra cá.
Não me senti especialmente ameaçada ou insegura em nenhum momento – nem em Lyon, nem em Courchevel e menos ainda na ultra pacata região de Beaujolais. Sim, a segurança está mesmo reforçada, sobretudo nas maiores cidades, com a presença constante de policiais nas ruas, nas estações e nos aeroportos. Cruzei com soldados armados diversas vezes nas últimas visitas a Paris, cruzei com eles em Lyon algumas vezes agora em março. Mas isso tudo, a meu ver, representa mais um sinal de segurança para quem planeja viajar para o destino que o contrário.
Honestamente, não me importo em passar por mais revistas de segurança na entrada de museus, nas estações e nos aeroportos. Por mais chato que seja, é um retrato do nosso novo mundo e eu me disponho a fazer o que for necessário para tornar nossas viagens o mais seguras possíveis neste novo cenário. Solicitei mudança de um voo para um horário mais cedo, já contando que levaria mesmo mais tempo na conexão até o voo seguinte – é chato, mas acho bom (ainda mais sendo alguém que passa boa parte do ano em aeroportos e aviões) que a passagem pelo raio-X seja cada vez mais criteriosa.
Para todos os leitores que andaram me questionando sobre o assunto ultimamente, desculpem o ~textão~ da vez. Mas, em suma, não, não aconselharia ninguém (mesmo) a cancelar sua viagem à França por motivos de (in)segurança. Como disse no começo deste post, não pretendo mudar meus planos de viagem pelo terror – não pretendo dar a “eles” esse gostinho. Nem, de maneira nenhuma, pretendo tirar a França, ou a Bélgica, ou a Europa em geral, dos meus planos por achar que poderia ser “menos seguro” que visitar algum outro destino – voltarei feliz da vida pra lá ainda neste semestre.
Muito bom, Mari. Eu fui uma das leitores que te perguntou sobre isso; pensei mesmo em desistir dessa viagem à França. Mas agora estou empolgada de novo, contando os dias para embarcar, e acho que vou aproveitar muito como você aproveitou. Mas triste pensar que esse tipo de preocupação daqui pra frente vai sempre estar na nossa cabeça.