Um impecável tour gastronômico com o Meeting the French
Carol é daquelas francesas quase irritantes de tão adoráveis. Bonita, simpática, magra e que não sabe falar de outra coisa que não seja comida – especialmente manteiga e gorduras em geral. Fala pelos cotovelos e tem tanta paixão por comida que chega visivelmente a salivar enquanto fala de alguns alimentos.
Era manhã cedinho quando nos encontramos – eu, uma australiana, um chinês e cinco americanas (4 solo travellers e duas duplas de mãe e filha) – com ela na Place Maubert, em Saint-German, para o tour gastronômico da empresa Meeting the French. Estava rolando ainda a feira do dia, então começamos o tour ali mesmo, entre barraquinhas de frutas, legumes, verduras e embutidos. A cada barraca, Carol mostrava seus produtos preferidos e como costumava prepara-los.
Falamos muito sobre alimentação em geral – principalmente sobre como a alimentação dos próprios franceses mudou nos últimos anos. Como os chamados “vegetais esquecidos” ou “vegetais da vovó” – com destaque para a abóbora – voltaram com tudo à mesa dos franceses, inclusive resgatando receitas familiares de outrora.
Carol nos mostrou a diferença entre os trocentos tipos de maçãs e de batatas que eles têm à disposição nas feiras de rua – cada um para um fim culinário específico, rigorosamente respeitado. As americanas piravam com tanta variedade. Numa das barracas, morangos imensos e perfumados, com dizeres “bio” (orgânicos) chamaram atenção; Carol então comprou duas caixinhas deles e um punhado de cerejas. Paramos na barraca de carnes e ela nos explicou os cortes mais comuns e para que costumam ser usados. Também falamos sobre como aproveitam praticamente todas as partes do boi, a exemplo dos espanhóis, em pratos tradicionais.
Enquanto nos falava sobre alimentos que viamos aqui e ali, Carol ia contando um pouco da história da França e de como a alimentação foi mudando ao longo dos séculos. E insistia como manteiga e gorduras em geral sempre foram parte essencial da alimentação francesa: “o mapa da França, se pensarmos bem, poderia ser um mapa da gordura, já que cada região utiliza e produz mais um tipo de gordura diferente”, comentava dando exemplos.
Engraçada naturalmente, sem afetação e muito discreta, Carol foi definitivamente a melhor guia que já tive num passeio gastronômico. Colaboradora de guias de restaurantes, ela consegue mesclar comida, cultura e história do jeito ideal, e com muita naturalidade.
Na própria Place Maubert, entramos na padaria para entender melhor os pães franceses. Para desespero das americanas, Carol insistia: “nada de croissants. Os croissants são austríacos. Precisamos de brioches e baguettes, esses sim franceses”. Comprou exemplares de ambos.
Logo ao lado, na premiada queijaria de Laurent Dubois, insistiu sobre como é necessário entender e respeitar a produção local de cada queijo. “A proveniência é a chave da qualidade nos queijos franceses”, disse. Experimentamos lasquinhas de alguns, definimos os prediletos e ela comprou pequenas porções dos preferidos ali mesmo, junto com manteiga Bordier (que eu amo de paixão!).
Cada coisa que comprava, Carol ia colocando em sua sacola reciclável – e sem parar de falar e gesticular. Deixamos a praça e caminhamos em direção ao Panthéon. Falamos dos restaurantes do caminho, das influências de outras cozinhas na cozinha francesa contemporânea, de arquitetura, de história, de transporte e da crise do lixo que envolvia Paris naqueles dias de junho passado.
Viramos na rua Moufetard, um outro endereço gastronômico francês bastante apreciado por foodies dos mais distintos orçamentos. Paramos numa lojinha gourmet para falar sobre foie gras, suas polêmicas, sua história, sua utilização. Carol comprou um vidrinho, um outro de compota e vinhos.
Quase três horas depois do começo do tour, então nos sentamos todos em volta da mesma mesa. Era meio-dia, mais que bem vinda hora do almoço. Carol colocou tudo o que tinha comprado sobre a mesa. Servimos os vinhos e Carol, sem parar de falar sobre a maior de suas paixões – a comida – , começou a repartir o pão, os queijos e nos servir um pouco de cada coisa. Comemos e conversamos ali por mais de uma hora e meia, animadamente, rindo muito, como se todas nos conhecêssemos há muito tempo – e estava tudo delicioso. E só deixamos o local porque cada uma tinha outro compromisso diferente pensado pra bela tarde de quase verão parisiense que fazia.
Já fiz inúmeros tours gastronômicos, e em distintas partes do mundo. Gostei da maioria deles, porque gosto mesmo do tema – e de comer bem, é claro 🙂 Mas adorei esse mais que qualquer outro. Por tudo: a guia, a estrutura, os alimentos selecionados, o grupo, a qualidade do que comemos. Programaço para solo travelers! Nunca tinha feito um tour como esse, nem com tanto conteúdo ao longo do passeio, nem com tal estrutura de comermos todos os ítens comprados ao longo do tour somente no final, à mesa, como uma refeição propriamente – o que eu achei absolutamente genial.
Do Brasil mesmo, reservei meu tour através do intermédio das queridas do Magariblu, que agora é também uma tremenda agência de viagens. Recomendo super <3
Programāo esse. Meu marido vai amar. Perguntinha: era em inglês ou frances?
Opa, boa lembrança, Maryanne! Depende do dia e horário escolhido – no site eles colocam todas as opções de datas, horários e idiomas. O que eu fiz era em inglês, mas tinha também em francês, espanhol e até em português.
Adorei. E qual é o site?
Marina, os dois sites – do Meeting the French e do Magariblu – estão linkados no texto nos nomes das respectivas empresas. Recomendo fortemente que se reserve através do Magariblu.
Por supuesto, esas fotos abren el apetito a cualquiera… 😉
🙂
Eu preciso fazer esse tour urgentemente 😛
é perfeito! mas reserva num dia que a guia seja a Carol porque ela é a alma do tour 🙂