Como alguns aprendizados da quarentena podem ser o empurrãozinho que faltava para novas viagens solo quando a pandemia passar
Viajo desde sempre e escrevo sobre viagens desde 2004. E desde 2008, eu escrevo também sobre viagens solo. Além de vários textos aqui e de matérias em diversas revistas e jornais no país todo, tenho também um livro específico sobre mulheres viajando sozinhas: o Sozinha Mundo Afora, pela Verus/Record, que você encontra fácil em formato impresso e também em ebook nas grandes livrarias físicas e online – inclusive nesse link aqui.
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Hoje, com a popularização dos blogs e das redes sociais, diariamente eu respondo dúvidas e troco ideias com pessoas ainda cheias de vontade, mas também cheias de receios sobre fazer sua primeira viagem em sua própria companhia.
Já viajei sozinha por destinos em literalmente todos os continentes. E aqui vocês já sabem de antemão que só considero “solo travel” as viagens que fiz realmente sozinha, de maneira totalmente independente. E é preciso fazer aqui uma ressalva importante: não apenas escrevo sobre viajar sozinho como realmente viajo frequentemente sozinha e aprendi a gostar muito deste estilo de viagem.
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Estar sozinho é diferente de sentir-se solitário
Sempre gostei da minha própria companhia, desde pequena. Sou extremamente sociável, adoro mesa e casa cheias, e troco ideias quase sempre feliz da vida com qualquer um que puxe-papo, seja no avião, na fila do museu, no café, no restaurante, no trem. Mas, ao mesmo tempo, gosto demais do “me time” também: de ler um bom livro quietinha, de sentar para escrever em um cantinho, de cozinhar, de praticar people-watching num café ou no aeroporto, de andar observando coisas e pensando na vida…
Talvez por isso viajar sozinha nunca tenha sido um obstáculo para mim. Gosto tanto de viajar sozinha quanto de viajar com uma boa companhia. Entendo que, para muitas pessoas, viajar sozinho parece sinônimo de solidão; mas te digo com certeza, após quase duas décadas de muita solo travel: não é. Mesmo para os mais tímidos e introvertidos.
Você pode ler aqui vários dos meus textos explicando que estar sozinho ou viajar sozinho são extremamente diferentes de sentir-se solitário. Fato.
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Mas o que a quarentena tem a ver com viajar sozinho?
Muita calma nessa hora: juro que não é papinho de coach de positividade, nem vou falar aqui do “lado bom da pandemia”. Não mesmo. A gente sabe bem o quão duros e difíceis estes meses todos da pandemia têm sido.
Mas muitas pessoas – MUITAS mesmo – foram obrigadas a passar esse tempo sozinhas para seguir as recomendações da ciência de manter o isolamento e o distanciamento social como principal ferramenta para frear os avanços da Covid-19. Eu sou uma delas. Moro sozinha há muitos anos e estou “quarentenando” no meu próprio apartamento desde 13 de março. E muitos dos meus amigos estão vivendo situação semelhante.
Também diversos leitores e seguidores também passaram esses meses sozinhos, em casa, mantendo contato social com amigos e familiares muitas vezes apenas virtualmente. Alguns me comentaram como o fato de passar tanto tempo sozinhos fisicamente fez com que seus temores de viajarem sozinhos diminuíssem drasticamente. E outros me disseram o quanto ter experiência em viajar sozinho ajudou imensamente a enfrentar os longos meses da nossa interminável quarentena brasileira.
Essa experiência adquirida por todos nós com a necessidade de isolamento e distanciamento social da pandemia pode ajudar também, de certa maneira, quem ainda tinha receio de fazer sua primeira viagem solo por medo da solidão.
Seguem aqui cinco pontos em que acho que o “isolamento da quarentena” e as viagens solo podem estar interligados. Same same but different, como dizem na Tailândia 🙂
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1. Descobrir o prazer da sua companhia
Ok, você não precisa gostar da sua companhia 100% do tempo. A maioria das pessoas é realmente sociável e a socialização nos faz bem. Mas gostar da sua própria companhia e entender que você pode se divertir mesmo sozinho é fundamental. Aposto que durante a quarentena você fez coisas legais sozinho, como ler bons livros, maratonar filmes e séries, cozinhar um treco diferente, preparar um drink novo, dedicar-se ao seu hobby (seja lá o que for: fotografia, jogos, jardinagem, escrita, artesanato…).
Se a gente não gostar da nossa própria companhia, quem é que vai gostar, não é mesmo? 😉
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2. Ser dono do seu próprio tempo
Sou super contra esse papo de que todo mundo tem que ser mega produtivo o tempo todo. Que tem que descobrir um novo talento ou hobby na quarentena ou qualquer coisa do gênero. Ninguém é uma máquina para ser valorizado por produção. O bom uso do seu tempo é uma medida absolutamente SUA.
Uma coisa importante que eu aprendi a valorizar viajando sozinha é o fato de ser dona do meu próprio tempo. Ter a chance de decidir como e quando usamos nosso tempo é extremamente empoderador – e em uma viagem solo o tempo é literalmente todinho seu. Fazer o que quero, do jeito que eu quero, nos horários que eu quero. Eu inclusive valorizo muito os momentos preciosíssimos de não fazer absolutamente nada! 🙂
Algumas pessoas que puderam ficar em casa neste ano e fazer home office tiveram um gostinho – dependendo da empresa, é claro! – de como pode ser ao mesmo tempo incrível e bastante desafiador a gente ser dono do nosso tempo o dia todo. Saber administrar adequadamente o nosso tempo também é algo que a gente aprende.
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3. Saber pedir ajuda
Eu sei que tem muita gente que não gosta, mas eu tenho ZERO vergonha de pedir ajuda. E recomendo muito! Sou metida e “caruda” para muita coisa, mas viajando sozinha aprendi que a gente precisa mesmo de ajuda frequentemente. E mais importante: que se não pedirmos, as outras pessoas não têm como adivinhar que precisamos daquele help.
Saber reconhecer as coisas sobre as quais a gente tem controle e aquelas para as quais a gente precisa realmente de apoio dos outros ajuda muito ao viajarmos sozinhos – e também ao atravessar a quarentena e na vida em geral mesmo 🙂
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4. Abrir-se para outras pessoas
Sempre defendi que, quando a gente viaja sozinho, a gente só fica sozinho quando e se quiser. Até porque, ao viajarmos sozinhos, ficamos muito mais expostos ao contato com outras pessoas do que quando viajamos acompanhados, e acabamos geralmente socializando mais.
Ao se abrir para a socialização com pessoas que cruzam o nosso caminho, ficamos expostos a mais jeitos diferentes de pensar e agir, a mais diferenças culturais, a mais histórias de vida. E tudo isso vai criando pequenas raízes na gente.
Ter alguém em quem confiamos (mesmo que apenas virtualmente) para pedir ajuda, dividir impressões, trocar ideias e ser honesto sobre nossas necessidades é MUITO importante nas nossas viagens solo – e foi importante demais na quarentena também, não foi?
Na quarentena, muita gente foi mudando sua maneira de encarar a dureza que tem sido 2020 conforme foi discutindo o tema com amigos e colegas de trabalho. Muita gente até se reaproximou de pessoas com as quais não tinha mais tanto contato e/ou aprendeu a valorizar muito a companhia virtual de quem está fisicamente distante – algo que quem viaja sozinho com frequência provavelmente já valorizava. Afinal, companhia virtual de amigos sempre funcionou muito bem quando não queríamos jantar sozinhos em viagens e para compartilhar algo incrível que vimos ou experimentamos naquele dia na estrada.
Somos seres humanos e precisamos de outros seres humanos. Garanto que nunca me senti solitária em nenhuma viagem que fiz sozinha. Pelo contrário; voltei de muitas delas com novos grandes amigos que estão realmente presentes na minha vida até hoje.
P.s.: Para os muito tímidos, vale saber que, para muita gente, fazer um diário enquanto viaja sozinho pela primeira vez ajuda muito a reconhecer suas sensações, anseios e necessidades. E, assim, seguir em frente de um jeito satisfatório. Não à toa, muita gente retomou o hábito dos diários durante a quarentena também.
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5. Saber lidar com o desconforto
Uma das grandes vantagens de viajar em geral é a gente aprender a reconhecer e lidar com as nossas zonas de desconforto. E isso é sempre mais evidente quando viajamos sozinhos, é claro. Mesmo nas viagens mais redondinhas, em algum momento somos sempre forçados a lidar com coisas e situações com as quais não estávamos acostumados, ou que não gostamos, não queremos, não previmos. Mas a gente se adapta. Sempre. Nas viagens e na vida. E geralmente fica mais fácil a cada nova tentativa 😉
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Super recomendo o livro Sozinha Mundo a Fora. E fui muito feliz viajando sozinha. E amei esse texto Mari!
Oba! Que bom, Cris <3
Que texto sensacional, Mari.
Eu também sempre gostei de viajar sozinha. Só não sou tão sociável quanto você, fico mais na minha.
Que possamos voltar a viajar, com segurança e confiança muito em breve.
Que ótimo! Sendo sociável ou não, o importante é a gente se sentir bem com a gente mesmo na viagem, não é mesmo? E, sim! Que possamos voltar a viajar com segurança muito em breve! <3