Ricardo Freire: viagens e pandemia

Conversei com Ricardo Freire sobre turismo, pandemia e o que podemos esperar por aí para nossas futuras viagens

Desde o começo da pandemia, muito tem sido discutido sobre nossas viagens e os rumos do turismo nacional e internacional. Algumas previsões do setor se confirmaram (incluindo desvalorização do real, desvalorização do passaporte brasileiro, possível criação de passaportes biológicos etc), mas muita coisa ficou no achismo.

Hoje, além de discutir os possíveis rumos do turismo a longo prazo, estamos começando a ver enfim as primeiras discussões sobre as viagens que já estão acontecendo durante a pandemia e o que pode acontecer no setor a curto prazo. Afinal, o setor já entendeu que a vacinação em massa é essencial para a retomada significativa.

VEJA TAMBÉM: Como é viajar na pandemia

Na semana passada, conversei com o sempre genial Ricardo Freire, do Viaje na Viagem, sobre viagens e pandemia, incluindo o que podemos esperar por aí do turismo nacional e internacional a curto e médio prazo. Afinal, o Riq não apenas entende muito sobre turismo em geral como é sem dúvidas também uma das pessoas que mais entende sobre nosso turismo doméstico.

Confira a mini-entrevista abaixo:

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Entrevista: Ricardo Freire

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Com a vacinação acontecendo desse jeito no Brasil e a pandemia ainda fora de controle por aqui, você acha que viagens internacionais “seguras” (e realmente mais liberadas nas fronteiras) poderiam acontecer a partir de quando? E acredita em um cenário/calendário diferente para os brasileiros nas viagens internacionais em relação a outras nacionalidades?

Ricardo Freire: Se até o fim do ano a gente recuperar a autonomia de viajar pelo Brasil sem riscos (e sem culpa), já terá sido uma grande conquista. E o que vai acontecer no turismo internacional ainda é uma grande incógnita.

Tome-se o caso da Austrália, que já anunciou não só o fechamento ao turismo internacional, mas a proibição de viagens internacionais de seus próprios cidadãos até 2022. Ao longo de 2021 saberemos (a) se as vacinas atuais protegem contra as novas cepas e (b) se pessoas vacinadas podem ou não ser vetores de transmissão. Nossa chance de viajar para o exterior antes de controlarmos a pandemia em casa depende dessas duas questões. 

Se tivermos sorte, em algum momento do segundo semestre talvez possamos viajar para alguns países com uma combinação de vacina + PCR negativo. Ou – aqui já estou entrando no campo da ficção científica — tomando uma versão atualizada de alguma vacina do Primeiro Mundo que seja eficiente contra as nossas cepas, vendida na rede privada depois que os países ricos já tiverem vacinado toda a sua população. Mas é melhor não contar com isso.

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2. Quais as mudanças desse um ano de pandemia que podem ter vindo para ficar em termos de turismo doméstico?

Ricardo Freire: Não acredito em mudanças no turismo convencional. O viajante médio continuará viajando para onde o seu tempo e o seu dinheiro puderem levar. Viajar para o exterior continuará sendo o objeto do desejo – e depois de dois anos preso, mais ainda. 

Entretanto, é possível que o home office e o ensino à distância despertem, num nicho mais sofisticado, a oportunidade de trocar de endereço durante uma ou outra semana do ano, aproveitando seus lugares favoritos fora de feriado.

Mas o que pode realmente impactar o turismo doméstico é se, para compensar a baixa irremediável nas viagens de negócio, as cias. aéreas redesenharem suas malhas pensando nos viajantes a turismo. Novas rotas com voos duas vezes por semana ligando capitais + cidades de porte médio diretamente a destinos turísticos, sem passar por São Paulo, Campinas ou Brasília, podem abrir novos caminhos para o turismo doméstico de massa.

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3. Em quê você acha que o perfil do viajante brasileiro (ou das viagens dos brasileiros) pode ter mudado nesse um ano de pandemia ?

Ricardo Freire: Sou cético quanto a mudanças perenes. Os viajantes reagem às condições vigentes, às oportunidades, ao câmbio, a suas necessidades e desejos. Durante a pandemia, os viajantes viajaram para fugir da pandemia. Todos. Mas cada um do seu jeito.

Alguns viajaram para fazer turismo de isolamento, outros viajaram para lugares onde o distanciamento social era possível. Infelizmente, a maioria viajou para simplesmente fugir dos protocolos e passar uns dias fingindo que não existe pandemia no lugar para onde foram.  Em muitos destinos, a baixa temporada virou um Réveillon permanente. Encontrar esse turista de Réveillon fora de temporada (e no meio de uma emergência sanitária), para mim, foi um choque. Se houve mudança de perfil durante a pandemia, na média foi para pior. 

Quando a pandemia acabar, vai ser a vez de quem ficou em casa fazer viagens de Réveillon fora de hora.  Mas o dia vai chegar em que viajar vai deixar de ser fuga (de um pesadelo, de uma prisão) para voltar a ter o significado que tinha antes para cada um.

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Por aqui, sigo esperando muito que as determinações de quarentena e restrições sejam agora devidamente cumpridas em todo o país, que vocês e suas famílias estejam seguros e com saúde, e que as viagens voltem a ter o significado que antes tinham para todos nós em um futuro não muito distante <3

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3 Comentários

  1. Bom dia

    Ricardo,inteligente e conhecedor dos meandros do turismo, dos prós e contras, suas contribuições são as melhores.

    Ainda não conseguimos respirar com facilidade. No meu país, a máscara agora é obrigatória até na praia. A vacinação é muito lenta e as possibilidades de viagens tornam-se cada vez mais complicadas. Por enquanto, você só pode ir sem máscara em sua casa. Por isso, a casa, o lar, a família são tão importantes nestes tempos cruéis e difíceis. A vacina é necessária, mas para todo o planeta se quisermos erradicar o problema e eventualmente viajar.

    O turismo mudou muito a economia do meu país. Um verdadeiro dilema para o futuro.
    ¡Salud!

    • Carmen, concordo muito! É fundamental vacinarmos TODOS para que a pandemia possa ser realmente erradicada.
      (ps: do meu lado, o uso de máscaras já não me incomoda, mesmo que vire definitivo)

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  1. Turismo após um ano de pandemia - Viagem Estadão - Efeitos Turismo

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