Paris: ir agora ou não?

Bateaux-Mouches ParisBreve reflexão sobre cancelar ou manter os planos de viagem para a Paris pós-atentados

 

 

 

 

Não estou em Paris neste momento. Na verdade, como a maioria de vocês já sabe (afinal, meu instagram denuncia boa parte dos meus passos), deixei a cidade-luz às vésperas do atentado do último dia 13 de novembro. E não voltei para lá ainda porque meus planos de viagem e trabalho para o período eram mesmo outros. Mas acredite: pessoal e profissionalmente, se pudesse escolher, não estaria em nenhum outro lugar do mundo que não Paris neste momento.

Eu me apaixonei por Paris ainda pequenininha, antes de conhecê-la. Ao longo dos anos, só fiz confirmar essa paixão (um tremendo clichê hoje, sendo uma jornalista especializada em turismo, but I don´t care) a cada visita. Dentre todas as cidades que amo no mundo, foi Paris que eu escolhi para ser a minha – hoje um relacionamento bem maduro e coerente, que ama inclusive pelos defeitos.

Desde o dia 13, tenho recebido muitas mensagens de leitores e amigos me questionando se acho que eles devem manter ou cancelar os planos de viagem para lá frente ao ocorrido. Se eu acho que vale a pena, se eu acho que a cidade estará segura. Bom, Paris estava (em teoria) muito mais segura desde o começo do ano, pós Charlie Hebdo. Em alguns lugares (Champs-Elysees, Torre Eiffel, estações de trem etc) até me incomodava um pouco dar de cara sempre com soldados com suas armas polpudas frente ao peito, caminhando em bandos de quatro, cinco, seis. Mas não foi suficiente, sabemos.

Arco do Triunfo Paris

Não posso, de fato, falar sobre como anda Paris pós atentados. Converso diariamente com alguns amigos que moram lá, mas (infelizmente) não estou em Paris. Qualquer coisa que eu escrevesse aqui a respeito seria através dos olhos deles, do feeling deles, do que me contam.

Cancelar ou não uma viagem para Paris agora é uma decisão muito pessoal que só o próprio viajante pode tomar. Meio “cada turista, uma sentença”. Depende das suas prioridades, do seu jeito, do seu feeling. Para ajudar na tomada de decisões, vale procurar textos de quem está lá agora (não valem as especulações bloguísticas ou facebuquianas de gente que mal conhece a cidade, é claro), ler as notícias dos jornais locais e das agências de notícia internacionais.

Paris

Quando me perguntam o que eu faria, respondo: “não posso decidir por você; mas eu, pessoalmente, não cancelaria”. Não cancelei viagem pós-atentados de Londres, não cancelei pós golpe na Tailândia, não cancelei Egito pós-primavera árabe, não cancelei por nenhum vulcão em erupção. Não me jogo na frente do trem, é óbvio, mas acho que acidentes e fatalidades podem acontecer em qualquer lugar – até mesmo em casa. Então não cancelaria Paris agora. Eu, minha opinião apenas.

Em janeiro, cheguei à cidade logo depois da chacina no Charlie Hebdo e passei quase duas semanas por lá, antes de seguir viagem à Suíça. Policiamento ostensivo nas ruas, a chacina na pauta dos jornais e de alguns diálogos diariamente, mas a cidade funcionando normalmente. Passei dias lindos, felizes, passeando pela cidade inteira. Mas eu sou adulta, viajo sozinha, conheço a cidade e tomo todas as decisões por mim mesma; não levo uma criança comigo, por exemplo, o que definitivamente altera prioridades. De todos modos, sempre achei Paris mais segura que qualquer grande cidade brasileira – e agora deve estar mais policiada do que nunca.

Paris

 

Pelos relatos dos meus amigos, sei que a cidade continua viva, funcionando plenamente. Eles me dizem que há um peso no ar, é claro. O tema continua em pauta na maior parte das conversas. Mas, passado o baque inicial, eles continuam indo ao trabalho todos os dias, namorando, visitando suas famílias, saíram em grupos de amigos neste final de semana. Assim como inúmeros outros moradores de Paris, também atenderam ao apelo da campanha encabeçada pelo “Le Fooding” (“Tous au bistrot”, todos ao bistrô), que convocava parisienses para não cederem ao terrorismo e lotarem bistrôs, cafeterias e restaurantes da cidade na noite da última terça – e jantaram fora (tem um artigo legal no Globo sobre isso que vale ler). Metrôs, trens, bares e restaurantes funcionam normalmente e as atrações turísticas estão quase todas reabertas – muitas delas, com policiamento triplicado. E, como já defendi aqui, acho que quem não sobe na torre não perde nada – Paris é muito mais bonita com ela no horizonte do que vista lá de cima.

No mais, recomendo, e muito, a leitura deste post aqui do Conexão Paris. Seus autores estão lá, vivenciando a cidade diariamente, conversando com outros moradores, saindo, frequentando espaços públicos, restaurantes, levando a vida de verdade. Nada de especulações, boatarias.  Eles, sim, podem dar um testemunho verdadeiramente pessoal, de quem está acompanhando tudo, desde o princípio, ao vivo e em cores, que pode te ajudar a decidir se embarca ou não para Paris agora. Eu, daqui, fico só na torcida. E contando os dias para eu mesma voltar para lá.

7 Comentários

  1. Bom ponto, Mari. Eu sou dessas pessoas no dilema entre cancelar ou não. Planejava ha meses a viagem pra la, mas fica complicado com a família e os amigos fazendo pressão contra. Bom saber que você não cancelaria. Vou ler o post do Conexão q vc indica antes de tomar a decisão final.

  2. Confesso que pensei em cancelar no final de semana passado. Mas depois pensei isso mesmo: Paris ainda é mais segura que Recife e não ha como ter garantia de nada em lugar nenhum. Foi muito tempo sonhando com isso pra largar assim. Embarco na sexta.

  3. Mari, ótimo post. Nesses tempos de visões maniqueístas, suas palavras são muito oportunas. Só mesmo quem precisa de alguém que dirija seu destino é que não vai gostar.

  4. Ótimo texto, Mari. Tenho passagem marcada para ir em dezembro com meus filhos de 8 e 12 anos e confesso q estou lendo tudo e mais um pouco para refletir se valeria mesmo a pena ir ou não. Como vc disse, com crianças as coisas mudam de figura, a decisão fica bem mais difícil. Obrigada por dividir seu ponto de vista e relatos dos seus amigos conosco.

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