O lendário hotel de Veneza faz jus à fama internacional que tem
Eram seis e meia da manhã e o silêncio reinava absoluto do lado de fora do lobby. O dia amanhecia preguiçoso e calorão do verão italiano ainda estava aceitável. Fui me aproximando devagarzinho da lancha estacionada no pier em frente ao hotel e vi que o piloto estava lá, sentado, e foi logo abrindo um sorriso ao me ver: “oba, já tenho uma passageira logo cedo?”. Em menos de cinco minutos, eu desembarcava sozinha na Piazza San Marco completamente vazia com a luz perfeita do amanhecer para tirar algumas das fotos mais bonitas que tenho da cidade.
O Cipriani, o hotel da Belmond que é a maior lenda da hotelaria em Veneza (e um dos mais clássicos do mundo), é, com o perdão do inevitável clichê, praticamente um oásis de sossego na agitação de Veneza. Localizado na ilhota Giudecca, que fica bem em frente à Piazza San Marco, consegue manter o visitante imerso naquela aura tão peculiar da Veneza das cores e dos canais aliada à paz e sossego constantes – o hotel é silencioso mesmo no auge do verão (estive lá no comecinho de agosto), inclusive quando o jardim à beira d´agua está cheio de hóspedes tomando café da manhã. E, quando a gente quer muvuca, são menos de cinco minutinhos de barco até a San Marco – lanchas lindas que ficam gratuitamente à disposição dos hóspedes literalmente 24h por dia (usei o serviço inúmeras vezes, nos mais diferentes horários do dia e da noite, e só tive companhia de duas outras hóspedes em uma destas ocasiões).
São tantos os predicados incríveis que eu poderia citar aqui para descrever o Cipriani que ele entrou, de cara, para a listinha de top 5 melhores hotéis da vida. E seguramente é por esse mesmo motivo que encontrei lá, durante meus dias como hóspede, gente que se hospeda ali praticamente todos os anos (incluindo um senhor adorável de 94 anos que já fazia seus planos para celebrar os 95 ali mesmo no ano que vem, com toda a família).
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O ambiente é todo meio teatral, meio etéreo, a cara de Veneza. E o serviço é absolutamente primoroso em cada detalhe (exigência desde os tempos do original Sr. Cipriani), atencioso, eficiente, discreto – mesmo com uma comunicação surpreendentemente rápida e eficiente entre funcionários: todo mundo parecia sempre saber o que eu tinha feito de passeio, onde tinha jantado, se tinha tomado o barco na madruga (que perigo hehehehe :P). E é romântico até dizer chega em todos os cantos, mas eles sabem como poucos receber os solo travelers.
O concierge, eficientíssimo, é craque em indicar passeios que fujam do óbvio, já que o hotel tem como maioria de seus hóspedes gente que já esteve em Veneza outras vezes. Foi através da equipe do hotel que descobri a praia na ilhota de Santo Erasmo, adorada pelos venezianos e ainda não descoberta pelos turistas, com direito a pelada à beira-mar no final de tarde, música e barraquinhas servindo cerveja, sorvete e petiscos na areia, no melhor estilo brasileiro 🙂
Foi também por indicação deles que visitei, enfim, o sensacional mosteiro da ilha Armenia. Mantido por monges armênios que produzem ali deliciosas geleias de flores, o mosteiro guarda um impressionante museu cujas relíquias incluem quadros, esculturas, uma surreal biblioteca e até múmias egípcias – please, não deixem de visitar!
Os detalhes
São 79 quartos e suítes no prédio principal do Cipriani, todos com varandinha privativa e banheiros suntuosamente impecáveis. Há também outras 16 suítes (que vêm com serviço de mordomo) no prédio anexo, o Palazzo Vendramin. Os quartos todos têm vistas incríveis para a lagoa, alcançando até 270 graus de vistas desobstruídas que incluem o Palazzo Ducale e os jardins que abrigaram Casanova. E têm chaves de verdade, às antigas, com os mesmos chaveiros pesadões desde sempre.
Os toques venezianos estão por toda parte: nos móveis, no mármore dos banheiros, nas varandas dos quartos, no piso do lobby. Tem um belo spa, diversos jardins, horta própria e uma impressionante coleção de lojas discretamente posicionadas no andar térreo. Mas a maior estrela das áreas públicas, é claro, é a imensa piscina quase à beira da lagoa, deliciosamente preenchida com água do mar.
No quesito gastronomia, também são Veneza na sua mais perfeita tradução. O delicioso café da manhã mezzo buffet, mezzo à la carte, é servido nos jardins com vista para o mar. O informal Cip´s Club é um restaurante que fica ao ar livre, quase debruçado sobre a água.
E o sensacional Oro, estrelado no Michelin e recentemente repaginado pelo designer Adam D. Tihany (mas sem perder o histórico teto dourado), é pedidaça para jantar mesmo para quem não está hospedado no hotel (e ainda tem uma adoravel mâitre brasileira!). E ainda dá pra pedir pratos leves e rápidos no Porticciolo, à beira da piscina, nos meses mais quentes.
Gabbiano bar: um capítulo à parte
Não é de hoje que o Gabbiano, o histórico bar do Cipriani, vive sob os holofotes. Há muito, muito tempo, hóspedes e não hóspedes se reúnem ali para degustar alguns dos melhores drinks de Veneza acompanhados de uma das melhores vistas.
Mas foi da amizade de George Clooney com o sensacional barman Walter Bozonella que o bar virou o bar mais disputado do destino: Clooney, fã convicto do hotel e do bar, transformou o local no principal point da cidade durante o festival de Veneza, por exemplo. Da amizade com Bozonella, surgiram coquetéis especiais criados em conjunto e agora trabalham juntos num tequila envelhecido produzido numa das propriedades do ator e envelhecido na adega do hotel.
O incrível Bozonella, um verdadeiro mito, está lá praticamente desde o começo. Numa das minhas noites no hotel, passamos um longo período batendo papo no bar, quando quase já não havia mais clientes. Ele me contou das coisas que o próprio sr. Cipriani lhe dizia, incluindo pérolas como: “o segredo de um bom drink é prepara-lo e servi-lo com um sorriso”. No meu primeiro dia no hotel, eu já tinha provado seu clássico Bellini, o melhor que já tomei: com cor intensa mas sabor super delicado e muito espumoso. Durante a noite do nosso papo, ele me fez de cara um Buonna Notte, um dos drinks que criou em conjunto com Clooney: “ele estava sozinho aqui no balcão do bar, conversando comigo, e começamos a misturar ingredientes e ver o que dava”, me contou. Disse que faz muitos drinks clássicos que os hóspedes pedem, mas que adora criar coquetéis diferentes com o que tiver à mão. Logo depois, me pediu licença para sair um pouco. Voltou com ramos de ervas nas mãos, que tinha acabo de colher da horta do hotel, chacolhando-os em minha direção com o sorrisão escancarado que lhe é peculiar: “ispirazione, Mari, ispirazione!”. Em instantes, misturou as ervas com outras delícias do seu bar (“vou colocar gin porque você disse que gosta”) de maneira muito decidida, sem titubear por um único instante. “Prova e me diz o que acha”. O drink era delicioso e não apenas provei como, papo vai, papo vem, tomei o copo todinho. “E como chama esse, Walter?” Ele vira pra mim, sorrisão escancarado: “Acabei de inventar, não tenho a menor ideia!”. Mito.
Pra mim, o melhor hotel de Veneza e um dos dez melhores hotéis do meu mundo.
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Que máximo!!!!
Acho que o Cipriani esta na lista de desejos de pelo menos 8 em cada dez viajantes do planeta. Bom saber que justifica a fama.
Que relato delicioso!