Notícias de Paris


Por onde eu ande, há música. Impressionantemente. O solitário saxofonista dos fundos de Notre Dame, a agitada bandinha da praça, a dupla que toca jazz sobre a ponte, fora violão, teclado e sei lá mais o quê em qualquer praça, esquina ou metrô em que eu me meta. E a trilha sonora sempre, sempre parece apropriada para o momento.


No meu caminho, casais perfeitos e casais tão improváveis; se beijam, discutem, se beijam de novo e fazem as pazes. Grupos de amigos, solitários, duplas e trios de mulheres – mulheres, muuuitas mulheres em todo canto – e corajosas velhinhas independentes, com suas mochilas nas costas e big câmeras em punho, desbravando Paris. Gente comum e gente ordinariamente diferente ao mesmo tempo.

Paris é uma cidade para ser feliz, sozinho ou acompanhado. Melhor acompanhado, claro, mas em Paris é possível ser feliz consigo mesmo, tomando um simples café e vendo a vida passar. É possível ser feliz vendo poesia num banco de praça, numa silhueta contra o por-do-sol, numa criança fazendo bolhinhas de sabão ao seu lado na praça.

Enquanto ando logo cedo, o cheiro de croissants recém assados invade minhas narinas; no final da tarde, é o perfume dos “gauffres” quentinhos que domina. De manhã, o vento fresco sopra na minha varanda por longos instantes; à tarde, o vento forte levanta areia no jardim de Notre Dame em meio a uma profusão de chapéus, chapéus, chapéus – de repente, todos parecem usar chapéus em Paris.

Às vezes, tomo o café da manhã na varanda, ainda que de olho nos pombos para que não venham pertubar meu demorado desjejum. Vários dias têm sido cinzentos, mas com tardes espetaculares, que reforçam as cores cálidas das flores. E os dias lindos de sol são terrivelmente quentes. Preguiça. Nos dias feios, passo horas agradabilíssimas nos meus museus prediletos, contemplando obras primas e curiosas pessoas em carne e osso, mais preocupadas em fotografar as obras que observa-las de verdade. Nos dias bonitos, manhãs deliciosas no Jardim de Luxemburgo, com direito a por-do-sol no Trocadero, na Place des Vosges ou na Pont des Arts.

Faço longas caminhadas rive gauche e rive drôite (sobretudo pelas ruelas que tanto me encantam do Marais, do Quartier Latin e Saint Germain), sempre tentando ao máximo resistir às adoráveis lojinhas de quinquilharias para casa e perfumarias. E, entre uma foto e outra, descubro a cada dia novos cantinhos na adorável Île de Saint Louis, lojinhas e cafés memoráveis, vendo o pessoal que prova massagem grátis sobre a ponte enquanto o navegar dos Bateaux Mouches é quase frenético – um atrás do outro, sem descanso. Na volta pra casa, artistas fazendo malabarismo sobre patins, engolidores de fogo em frente as portas de Notre Dame, pintores e caricaturistas disputando um espaço ao sol e sob a luz da lua. Às vezes passo também pelos vendedores de livros e gravuras das margens do Sena que resistem bravamente até a noite, sempre parecendo tão infelizes. E me pergunto: como eles podem parecer infelizes em Paris??? Impossível. Paris é para quem quer ser feliz.

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