Tunísia: cores, temperos e cheiros

Já faz décadas que os europeus começaram a freqüentar as praias da Tunísia, mas foi somente nos últimos dois ou três anos que o país começou a atrair a atenção do Brasil. Mas não são os mil e duzentos quilômetros de praias tunisianas que nos atraem – como balneário, o país decepciona brasileiros; é o deserto que mais nos fascina.

Aliás, não apenas desertos: cidades históricas, ruínas, praias, mesquistas, compras, museus…. As compras na Tunísia são uma verdadeira aventura, os preços são muito camaradas e mais de 70% dos 800 hotéis do país são de quatro ou cinco estrelas (embora não ostentem todo o luxo que se espera de hotéis destas categorias). E é o tipo de país em que até dá para encarar um pacote para percorrê-lo com tranquilidade e conforto (os melhores são os de operadoras espanholas, com saídas de Madri ou Barcelona).

Cheia de cores, temperos e cheiros, a Tunísia não tem nada do estereótipo dos países muçulmanos; mas a verdade é que as mulheres ocidentais têm sempre a sensação (fundamentada) de estarem sendo observadas o tempo todo. Para as acompanhadas, curiosamente as mais branquinhas e cheinhas, rola sempre aquela brincadeira de perguntar ao homem quantos camelos quer para deixar sua mulher por lá.

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As fotos do presidente Ben Ali, no poder desde o final da década de 80, estão literalmente em todo lugar e as sirenes chamam várias vezes por dia para as orações. Extremamente simpáticos, os tunisianos sabem como poucos receber seus milhões de turistas: a infra-estrutura de aeroportos, hotéis e restaurantes impressiona e os comerciantes se desdobram para falar tudo quanto é língua. Fanáticos como nós pelo futebol, quando identificam brasileiros, querem logo mostrar que entendem do assunto e que adoram Ronaldo.
A Medina de Tunis, parte da antiga cidade cercada de muros, é uma festa para os consumidores mais afoitos e o Museu do Bardo certamente vale a visita, assim como as ruínas Aqueduto de Zaghouan. Mas as melhores atrações estão mesmo nos 450 quilômetros que a separam de Douz, bem na entrada do deserto. A primeira parada costuma ser a encantadora Sid Bou Said, com suas casinhas brancas e portas azuis, seguida por Cartago e, depois, o Coliseu de El Djem, patrimônio mundial do começo do século III: menor em tamanho mas muito mais conservado que o de Roma, ficou conhecido mundialmente quando foi cenário de um comercial de refrigerante que contava também com jogadores brasileiros. Kairouan é a cidade sagrada para muçulmanos e a entrada na grande mesquita permite conhecer com detalhes suas instalações – com destaque para o Mausoléu do Barbeiro -, de arquitetura muito peculiar. Destruída e reerguida várias vezes até o século IX, tem uma imensa colunata em seu pátio central em que nenhuma das colunas é idêntica à outra: são de períodos, materiais e estilos diferentes.

A cidadela de Tozeur encanta com seus tijolos à mostra e grandes palmeirais, assim como o vilarejo de Nefta, bem nos limites entre os desertos de sal e areia, famosa pelas viagens de balão no comecinho do dia. Douz – doce em francês – é a porta de entrada dos turistas para o Saara, com seus pitorescos passeios em dromedários e os jantares beduínos típicos. Matmata, onde foram filmadas cenas da série Guerra nas Estrelas, é toda de cor avermelhada e quase não se vê construções na superfície, dado o calor na região – as habitações são encravadas na areia. Vale também destacar Gabes, famosa pelos tapetes e porcelanas, Sousse, e seus hotéis à beira mar e agitada vida noturna e a ilha de Djerba, banhada pelo mediterrâneo. Nesta última, as nativas casadas usam lenços da cor vermelha; as viúvas, a amarela; e as solteiras, a verde (não há como não pensar numa analogia engraçada com um semáforo…). Os casamentos na ilha também são famosos, conhecidos como os “casamentos das três noites”: a do grito, quando as mulheres são pela primeira vez depiladas e há muito barulho e música na casa para abafar os sons; a do riso, quando acontece a primeira conversa sobre sexo com a noiva; e a da festa, quando acontece o casamento propriamente dito e à meia-noite os noivos se retiram para consumar o ato.

Mas nada chama mais a atenção dos turistas que os imensos desertos de sal – grandes lagos de água salgada que ficam secos na maior parte do ano: o mais famoso é Chott El Djerid, que divide a Tunísia ao meio numa grande planície de sal – são mais de duas horas de viagem numa estradinha bem no meio do lago que não tem nada além de vendedores de tâmaras ao longo do trajeto.

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