Assim como em outros setores da indústria do turismo, o mercado de cruzeiros deve enfrentar consideráveis mudanças nos próximos tempos
Nas últimas semanas, andei escrevendo bastante, aqui e em alguns dos veículos com os quais colaboro, sobre quais mudanças já estão em curso na indústria do turismo e que outras mudanças devem acontecer, segundo prognósticos de especialistas, no nosso jeito de viajar quando for seguro sair por aí novamente. Têm sido semanas de muitas pesquisas, entrevistas e discussões para entender o quanto – e como – esse mercado vai mudar. Dá para ler um resumo do que já foi citado até agora neste texto aqui.
Mas faltava falar em detalhes sobre grandes mudanças vindo por aí em uma indústria bem específica deste mercado: os cruzeiros. Afinal, desde o começo da pandemia da covid-19 muita gente já se apressou em dizer que os cruzeiros tinham acabado, que as pessoas jamais embarcariam em um navio novamente. Mas alto lá: eis aí um setor da indústria turística que sempre teve padrões elevadíssimos de higiene e limpeza e, dada a fidelidade de seus passageiros à algumas marcas, talvez se reerga com mais propriedade e maior antecedência que outros setores turísticos.
Claro que cada um é cada um e ninguém será obrigado em entrar em um navio novamente 🙂 Mas especialistas no setor têm apostado que o setor de cruzeiros não vai desaparecer, não; até porque a indústria dos cruzeiros não é tipicamente abastecida pelo turista típico brasileiro e sim por uma demografia bem específica de americanos, canadenses e e europeus muito focados em fidelidade a marcas e planejamento. Mas, é claro, armadoras terão seguramente que fazer alterações bastante significativas em suas operações.
Enquanto muitos hotéis seguem abertos de alguma forma e muitas companhias aéreas ainda seguem voando (mesmo que com frotas e malha aérea extremamente reduzida)s, a indústria dos cruzeiros marítimos e fluviais está oficialmente 100% parada. Neste final de semana, o último navio de cruzeiros do mundo que esperava a chance de encerrar sua viagem finalmente desembarcou seus passageiros – e, acredite, sem um único caso de covid-19 entre eles ou seus tripulantes (a interessante história deste cruzeiro específico pode ser lida em inglês aqui).
Eis aqui algumas mudanças já anunciadas e outras mudanças POSSÍVEIS apontadas por especialistas neste mercado quando as navegações comerciais marítimas e fluviais forem retomadas (possivelmente no segundo semestre deste ano):
Restrições de público
Pode ser controverso e até pouco coerente, mas é provável que, ao menos por um tempo, armadoras de cruzeiros comecem a fazer restrições sobre quem pode embarcar em seus navios ou não. Passageiros mais idosos ou com doenças pré-existentes podem ser recusados em princípio. Mesmo grandes companhias conhecidas dos brasileiros, como Royal Caribbean e Celebrity já anunciaram que devem banir passageiros com doenças pré-existentes ou com mais de 70 anos de seus itinerários – a menos, é claro, que estes últimos tenham documentos de seus próprios médicos atestando que têm condições de saúde perfeitas para embarcar.
Controles sanitários rigorosos pré-embarque
Assim como especula-se sobre novas regras para embarques em aviões (leia mais sobre isso aqui), várias armadoras de cruzeiros já anunciaram que planejam fazer rigorosos controles de raio-X, de temperatura e de outras condições dos passageiros antes de permitir seu embarque no navio – mas ainda não se sabe como conseguirão fazer esse controle também durante seus itinerários. Algumas companhias já pensam em adotar documentação que comprove que o passageiro é covid-free e/ou adquirir testes rápidos de covid-19 para literalmente testar seus passageiros antes do embarque – assim como a Emirates já começou a fazer em parte dos seus voos.
O fim do buffet
Assim como nos grandes resorts, os serviços de buffets self-service como conhecemos em navios devem ser banidos por questões sanitárias óbvias. Algumas companhias de cruzeiros asiáticas já confirmaram a extinção dos buffets em seus navios daqui por diante. Quando a pandemia já estiver extinta, alguns especialistas acreditam que este tipo de restaurante a bordo até pode voltar, mas com tripulantes e não passageiros colocando a comida nos pratos e lidando com talheres, copos, bebidas e afins (medida já tomada por diversas armadoras de cruzeiros em epidemias anteriores). Saleiros e pimenteiros devem também ser removidos das mesas.
Padrões de higiene muito mais rigorosos a bordo
Assim como muitos hotéis já estão adotando procedimentos de higienização de hospitais para suas propriedades, as companhias de cruzeiros também terão que DEFINITIVAMENTE rever seus padrões de higiene geral a bordo, indo muito além de insistir para que seus passageiros higienizem suas mãos com álcool gel com frequência.
Capacidade reduzida
Assim como deve acontecer com aeronaves, é bastante provável que navios tenham suas capacidades máximas reduzidas para poder continuar operando dentro das normas vigentes de distanciamento social, de pelo menos dois metros entre dois indivíduos – pelo menos enquanto não houver uma vacina definitiva. Algumas companhias já sinalizaram que pretendem reduzir a capacidade operacional de seus teatros, restaurantes e demais espaços públicos em pelo menos 50% para serem capazes de cumprir com as normas internacionais de distanciamento.
Itinerários mais curtos
Se recentemente a indústria de cruzeiros investia cada vez mais alto em itinerários cada vez mais longos (mesmo os cruzeiros de volta ao mundo estavam cada vez mais comuns), é bem possível que a partir de agora o mercado seja reformulado para itinerários mais curtos e menos complexos, com paradas em portos com mais infra-estrutura de embarque, desembarque e, consequentemente, de remoção de passageiros. Até porque nem sabemos quais fronteiras estarão reabertas quando a indústria de cruzeiros voltar a operar parcialmente. Além disso, ao menos por um tempo, a tendência é que turistas em geral optem por destinos mais próximos “de casa”, com melhor logística (aérea e terrestre) para voltar rapidamente ao seu país/cidade de origem no caso de um novo surto. Algumas armadoras já informaram que alguns de seus navios ficarão exclusivamente dedicados a itinerários curtos, de no máximo cinco noites.
A indústria dos cruzeiros realmente ingressa nessa quarentena com a reputação profundamente abalada por uma série de equívocos inadmissíveis por parte de muitas grandes empresas. Mas eis aí um mercado que não deve encerrar suas atividades tão cedo – embora também não deva retomar suas atividades tão cedo também.
Leia mais sobre as mudanças nas nossas viagens com a covid-19 aqui.
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