Pic-nic com vista |
Nunca entendi gente perdulária, que não controla gastos nem valoriza seu próprio dinheiro. Muito menos gente perdulária em viagem: aquela coisa de gastar até o último centavo de euro na viagem em idiotices no aeroporto porque “não sabe se volta para a Europa um dia” ou pequenas fortunas por um simples café na vibe “já que estou aqui” nunca me convenceram.
Por outro lado, sempre achei que, se estamos em férias, depois de suados dias trabalhados, merecemos nos mimar pelo menos um pouquinho durante a viagem. Em quê e como cada um gasta seu dinheiro é algo estritamente pessoal, é óbvio; depende não apenas do valor que damos individualmente a cada coisa como também do nosso próprio orçamento de viagem – que, muitas vezes, muda de uma viagem para outra, não é mesmo? Mas acho que os nossos “pequenos esnobismos de férias” – ou “luxinhos de viagem” – são bons, a gente gosta, e dão mesmo aquela vibe de “férias”, prazer, felicidade para nossa viagem (já falei pra vocês que, por mais que eu adore o Theroux, não concordo em nadinha com a teoria de que as grandes experiências de viagem só vêm dos perrengues).
Um almoço no badalado Café Boulud, em NY, vale US$29.99 |
Os meus pequenos esnobismos que já são regrinha:
– usar um táxi no trajeto aeroporto-hotel-aeroporto. Salvo nos casos em que o transporte público é muito eficiente, você não carrega bagagem pesada e o deslocamento não envolve baldeações nem escadarias-não-rolantes, acho esse um pequeno esnobismo altamente justificável, mesmo para os orçamentos mais apertados.
– acordar tarde um dia. Diz uma amiga minha que não costuma dormir em euros. E eu acho que, se a gente está num lugar legal, principalmente se for a primeira vez, tem mais que aproveitar ao máximo; mas sem exageros. Dormir bem durante a viagem deixa a gente bem disposto para aproveitar BEM os dias fora de casa e voltar feliz da vida para o trabalho depois. Assim, acho um esnobismo bem aceitável se dar ao luxo de acordar tarde ao menos num dos dias para deixar o sono (e o corpo) em ordem. Não digo perder uma manhã dormindo, não. Mas se dar umas horinhas a mais de sono para encarar bem o que ainda tem de viagem pela frente.
Vai um chazinho aí? |
– tirar um dia para “não fazer nada”. Isto é, não ter programa pré-definido. Esse esnobismo só vale para quem está no slow travel – quem optou por conhcer 22 cidades em 25 dias, não pode. Quem viaja devagar, curtindo cada lugar, pode até se dar ao luxo de tirar um dia com zero programação: só sair do hotel sem rumo, zanzar aqui, parar ali, xeretear acolá – para mim, o tipo de passeio SUPER delícia, principalmente quando revisitamos um lugar.
– passar uma tarde no parque. É a versão resumida do tópico acima. Se não dá pra passar um dia inteiro sem “ticar” suas atrações da lista, que seja um período. Uma manhã lendo nas cadeiras do Jardim de Luxemburgo ou uma tarde estirada na grama da Place des Vosges são absolutamente revigorantes, acredite.
– tomar um drink num bar hypadaço. Se você queria muito ficar para jantar num lugar que está além de suas possibilidades financeiras ou se hospedar num cinco estrelas que não cabe no seu budget, tomar um drink no bar desses lugares estrelados pode ser bem interessante – e ainda costuma render um people-watching DAQUELES 😉
Um belo drink num baita lugar para fechar o dia |
– curtir um spa. Você não vai querer gastar um dia inteirinho de sua viagem enfiado num spa, certo? Mas, como a gente costuma caminhar horrores nas férias e deixar o corpo sofridinho não só com as andanças mas com os próprios deslocamentos em aviões, jetlag etc, vale cuidar bem dele para garantir seu bem-estar na viagem todinha. Vale massagem no seu próprio hotel, uma massagem bacanuda num hotelaço no qual você sempre ficou de olho ou mesmo algo absolutamente despretensioso e bem local, como o hammam baratinho e curioso do Çemberlitas em Istambul ou a thai massage fartamente oferecida em Bangkok (e baratíssima mesmo no tradicional Wat Po). Ou 15 minutinhos na sauna do seu hotel. Momento #brioches simplesmente delícia.
– um café divino numa tarde qualquer. Pode ser um high tea em Londres, um cafe au lait e uma éclair em qualquer padaria de Paris ou uma bica com pastel de nata em Portugal, por exemplo. Além da delícia dos sabores, escolher um lugar legal também é importante. E, claro, aproveitar a pausa prazeirosa para mandar ver no people-watching (particularmente, eu paro “para um cafezinho” todo santo dia quando viajo :-D)
– passar a última noite num belo hotel. Mudar de hotel toda noite é mesmo chato pra cacildis e é o tipo que coisa que não recomendo para as férias de ninguém; só faço isso em algumas viagens com propósitos puramente profissionais. Mas quem tem que apertar o orçamento na hora da hospedagem, ter o prazer de passar a última noite como um rei, num hotelaço, cama gigante, lençóis de todos os fios etc, tem aí uma bela oportunidade de fazer a máxima “fechar a viagem com chave de ouro” valer
Uma tarde na praça, fazendo NIENTE |
– fazer ao menos uma refeição memorável na viagem. Seguindo a mesma máxima anterior: se você não acha que as experiências gastronômicas são tão importantes na sua viagem ou viajou com o dinheiro muito contadinho para essa parte da aventura, reservar pelo menos uma refeição memorável no seu roteiro é mais do que aconselhável. Quer uma dica para economizar mesmo nisso? Aposte no almoço. Mesmo os restaurantes mais estrelados no Michelin costumam ter fórmulas expressas de almoço muito mais baratas – e igualmente gostosas – que seus menus no jantar.
– torrar as milhas num upgrade. Você pode achar que as viagens de executiva e primeira classe jamais farão parte da sua vida a julgar pelos valores abusivos geralmente praticados nessas classes. Mas usar todos seus pontos/milhas por trechos nelas é muito mais simples e factível do que a maioria das pessoas pensa. Um trecho em executiva para os EUA, por exemplo, vale 40 mil pontos na baixa temporada; em primeira classe para a Europa, 60 mil pontos na mesma época. Mesmo quem tem menos pontos, pode fazer ótimo uso deles solicitando um upgrade de classe dependendo do bilhete que você comprou.
E você? Que pequenos esnobismos das férias costuma colocar em prática?
Durante a Copa de 2006, na Alemanha, bebi o chope mais caro da minha vida: 15 Euros por uma caneca na área externa do restaurante do Hotel Adlon de Berlim – aqueeeele, onde o Michael Jackson pendurou seu filho bebê pela janela do quarto uma vez.
Sentei numa mesa de frente para o Portão de Brandemburgo e saboreei a bebida contemplando o monumento. Guardo a NF da extravagância até hoje como recordação.
Durante a Copa de 2006, na Alemanha, bebi o chope mais caro da minha vida: 15 Euros por uma caneca, na área externa do restaurante do Hotel Adlon, em Berlim – aqueeeele, onde o Michael Jackson pendurou seu filho bebê pela janela do quarto.
Sentei numa mesa de frente para o Portão de Brandemburgo e saboreei a bebida contemplando o monumento e toda a paisagem ao seu redor. Tudo valeu muito a pena e guardo a NF da extravagância até hoje como recordação.
Certa vez dispensei o voo de volta – já incluído e pago, e que fazia parte do pacote que eu havia comprado – e passei uma semana a mais no destino, aproveitando pra esticar as minhas férias e conhecer os arredores. Tive que reduzir a termo um documento declarando a minha intenção à operadora pra isentá-la de eventuais responsabilidades. Arquei com mais 7 dias de hotel e com o bilhete de retorno de Porto Seguro pra Congonhas. Os 4 amigos que foram comigo nessa viagem até hoje não acreditam que eu não embarquei e que eu fiquei sozinho por + 1 semaninha sob o sol da Bahia.
Beber qualquer coisa que contenha álcool na Noruega já é um esnobismo, haja vista os altíssimos preços das bebidas, taxadas pelo governo com a intenção de tentar desestimular um pouco o consumo, tão excessivo no país. Amante da cerveja, em Oslo não resisti e bebi 2 long necks Heineken por 9 Euros cada no bar do Hotel Rica G20, onde estava hospedado. Tudo vale a pena quando a viagem não é pequena.
Eu faço um pouquinho de cada, dependendo da ocasião. 🙂 Não sou nada fã de perrengues em viagem e descobri que pra mim, uma noite bem dormida, com um bom colchão, entre lençois maravilhosos e um bom travesseiro, me faz aproveitar muito melhor o dia seguinte, eu fico muito mais disposta para encarar um dia turistando. Se tiver a chance de ser num hotel memorável, melhor ainda.
o meu preferido nessa lista é dormir até tarde. poxa, faço questão, por isso raramente faço viagens do estilo “ir no sabado bem cedo e voltar no domingo bem tarde” – acho que assim canso mais do que descanso! entao adoro dar aquela dormidinha pra ter certeza de q estou de férias!
Esses pequenos luxos são ótimos, ainda mais estando de férias!
Esse de dormir até tarde então, não tenho nenhum problema.
Sempre faço um ou outro, afinal não dá pra gastar tudo, mas o que preciso fazer um dia é torrar minhas milhas num upgrade, poxa econômica pra sempre, não dá!
Direto de JNB, depois de tomar um banho e voltar à condição de humano antes de partir para a próxima perna da viagem até Pequim, fiz questão de voltar aqui para acrescentar: UMA SALA VIP, OU UMA NOITE NUM HOTEL, OU UMAS HORAS NUM HOTEL quando a viagem for bi-oceânica. Gente, vale cada centavo. Por Deus.
Bem lembradíssimo, Gabe! Cacifar um hotel ao invés de dormir ou amargar conexões longuíssimas no aeroporto é um “esnobismo” altissimamente recomendado. Assim como pagar uma sala vip para esse mesmo fim – e que é um custo bem encarável mesmo nos orçamentos mais apertadinhos, sempre em torno dos 35 dólares. E eu já cansei de defender aqui: ter um cartão de crédito que te permite entrar numa sala vip é um investimento que vale cada centavo da anuidade. A gente chega no destino milhões de vezes mais bem disposto e preparado para aproveitar de verdade o lugar.
Esses “esnobismos” são sempre deliciosos. Ficar num hotel bam-bam-bam pelo menos uma noite é de lei nas minhas viagens.
E um drink num lugar classudo é tudo de bom.
Delícia de post, esse!