Índia: o turbilhão Delhi

DSC_0239 Explorando a capital indiana em seus lados novo e antigo

 

 

 

Desembarquei em Delhi no meio da madrugada – meu voo da Etihad, vindo de Abu Dhabi, chegou três e pouco da manhã. Do alto, eu só vi uma imensa cidade menos iluminada que o habitual. A boa surpresa foi desembarcar num aeroporto bonito, moderno e super bem organizado (bem, BEM diferente dos demais aeroportos que conheci no país). Todos os voos internacionais desembarcam na cidade à noite, mas nem havia muvuca na imigração ou nas esteiras – fui atendida rapidamente e sem uma única pergunta (por ser uma exigência para jornalistas, eu estava com um visto de imprensa conseguido a duras penas, mas nem meu certificado de vacinação internacional foi exigido).

Ao desembarcar, encontrei rapidinho o motorista que me esperava, um alento frente à multidão de taxistas e motoristas de tuk-tuk que se espremem no saguão disputando os recém-chegados (meu conselho de amiga: combine seu transfer com o hotel ou um receptivo com antecedência, por sua própria segurança mesmo). No caminho para o hotel, ruas tão tranquilas, quase desertas, que nem de longe aquilo parecia a mesma cidade que eu encontrei na manhã seguinte, ao deixar o hotel cinco horas mais tarde para explora-la.

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Delhi

Como toda metrópole, Delhi é um turbilhão. Delhi buzina. Muito. O tempo todo. É um turbilhão de responsa mesmo, porque são 25 milhões de pessoas, entre indianos e expatriatos, convivendo ali – segunda cidade mais populosa do mundo, perde só para Tokyo. O trânsito ali deveria ser estudado pela ciência: ônibus, carros, motos e tuk-tuks desenham uma coreografia desgovernada que inacreditavelmente dá certo no final – não vi um único acidente nos meus dias na cidade. Deve ter algo correndo no sangue dos indianos que lhes dá superpoderes. Em Old Delhi, somem-se a eles pedestres (muitos!, incluindo crianças pedintes no semáforo), um sem fim de riquixás em movimento caótico e surreal e vacas, muitas vacas.

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Infelizmente, muitos turistas só chegam e saem da Índia através de Delhi e nem entram de fato na cidade. Uma pena, porque foi dos lugares que mais gostei no país e recomendo efusivamente que se visite. Está dividida em duas partes, New Delhi (a cidade imperial construída pelos britânicos no século XX) e Old Delhi (capital da Índia muçulmana dos séculos XVII a XIX). O contraste entre elas é bem claro: a parte nova é feita de avenidas largas, rotatórias, casas e edifícios mais modernos, extensas áreas verdes. Cheguei a lembrar de São Paulo em vários cantos. Já a parte antiga é a do trânsito mais caótico, ruas mais estreitas lotadas de gente, carros, tuk-tuks, motos, riquixás, vacas, carroças, fiação à vista, carregadores, barracas de frutas.

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Old Delhi é meio a Delhi dos livros, guias e revistas, mais caótica, com muitas mesquitas, monumentos e fortes por toda parte. Fazer ao menos um belo dia de tour por ela é essencial – e ter um guia pra isso é altamente recomendável; afinal, é tudo tão intenso e frenético por ali que convém ter alguém que te pontue as coisas mais importantes e responda no ato, e in loco, as (muitas) dúvidas que você terá (eu estava com um guia contratado através da Indian Routes).

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A visita pela parte antiga geralmente começa pela Jama Masjid, a mesquita real construída pelo imperador mughal Shah Jahan (sim, aquele mesmo do Taj Mahal) em 1656, considerada uma das maiores e mais bonitas do mundo, toda construída em arenito vermelho e mármore branco. Infelizmente, a gente não pode visitar vários dos cômodos, mas a arquitetura e as dimensões valem a visita – assim como o people watching.

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Chandni Chowk, a rua principal da zona comercial mais tradicional da cidade, é absolutamente imperdível – mas igualmente superlotada e caótica. E, sendo bem franca, não é very welcoming para mulheres viajando sozinhas, não; tentei passear sozinha por lá mas só deu certo quando fui com guia (sobretudo de manhã, quando o ambiente é exclusivamente masculino). Ainda assim, dos lugares mais fascinantes de Delhi na minha opinião. A área do mercado existe há mais de três séculos e vende de tudo, de temperos e tecidos a ouro e perfumes. A área dos temperos, aliás, é chamada de Khari Baoli e é o maior bazar de especiarias da Ásia, com algumas famílias marcando presença ali há um século.

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Para explorar a região a melhor coisa é caminhar e, nos trajetos mais longos, contar com os tresloucados riquixás, geralmente pedalados com sofrimento por indianos descalços. Katra Neel é a zona têxtil – mas conseguir olhar tecidos e roupas ali me foi tarefa impossível, tamanha a lotação e o assédio, uma pena. A maioria das lojas e estandes funciona de segunda a sábado. Já quase no Red Fort (ou Lal Quila, o maior monumento de Delhi, com quase dois quilômetros de muralhas), o Chor Bazaar vende eletrônicos e roupas e bolsas de marca fake – o nome do bazar significa literalmente “mercado dos ladrões”, ops. O Daryaganj Book Market funciona aos domingos e é um verdadeiro paraíso para amantes de livros e papéis antigos.   Chhatta Chowk, também funcionando há séculos, é a área do mercado mais destinada às mulheres, com bijoux e semi-jóias, bolsas bordadas e antiguidades duvidosas. Delhi, só por essa região, me pareceu o melhor lugar da Índia para compras – mas confesso que foi muito, muito difícil e desgastante me aventurar por ali sendo uma mulher sozinha e acabei não comprando nada. Ficou pra próxima.

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Uma das atrações mais impressionantes de Delhi, a Humayun´s Tomb (ou Humayun ka Maqbara), tumba do imperador mughal homônimo construída no século XVI, foi a primeira a usar arenito vermelho em tamanha escala. Declarada patrimônio da UNESCO, inspirou diversas inovações arquitetônicas no país, inclusive o Taj Mahal (e a semelhança é mesmo bem grande).  Além da tumba em si, diversos outros monumentos menores fazem parte do complexo.

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Mas talvez o meu templo predileto tenha sido o Gurudwara Bangla Sahib, o templo Sikh que também é visitado e reverenciado pelos hindus. Não por seu tamanho, beleza ou imponência, porque nestes aspectos perde mesmo para os demais. Mas pela certa comoção que o local desperta, com tanta gente dando demonstrações explícitas de fé ali, entre sons, cânticos e a leitura das escrituras sagradas. Ali também funciona uma imensa cozinha comunitária que serve diariamente refeições para quantidades impressionantes de pessoas – tudo à base de voluntariado e doações. Com jeitinho, consegui que me recebessem na cozinha em si e foi sensacional bater papo com os cozinheiros e ajudantes e ver de perto a quantidade surreal de pães, lentilhas e outros pratos que produzem ali.

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New Delhi acabou sendo capital de nada menos que sete culturas diferentes (incluindo mughals, turcos, persas e, claro, britânicos) e isso fica bem claro na mistura curiosa de estilos arquitetônicos na cidade. É na parte nova que fica a grande maioria dos hotéis, shopping centers, restaurantes etc. Também ali ficam o Palácio Presidencial e os belos prédios do Parlamento, uma mescla interessante de estilos vitoriano e moderno. Quase ao lado do Parlamento, o arco India Gate, memorial aos soldados indianos mortos em combate.

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Saindo cedinho do hotel e voltando no finalzinho da tarde com guia e carro com motorista, dá pra otimizar pra caramba e fazer todo esse básico num city tour de um dia. E ainda terminar no belo Qutab Minar, um minarete de mais de 70 metros de altura e cujo trabalho feito à mão para decorar a estrutura se conserva praticamente intacto quase mil anos depois.  Aos pés da torre, fica a Quwwat-ul-Islam, a primeira mesquita a ser construída na Índia – em um de seus portões, um painel informa provocativamente que foi construída com material proveniente da demolição de 27 templos hindus, com um pilar de ferro de 7m no meio de seu pátio. Na área, ruínas de construções e uma belíssima sequência de arcos e colunas (a maioria delas com símbolos muçulmanos desenhados sobre símbolos hindus) completam a beleza do local.

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Dos hotéis da cidade, valem menção o Le Meridien, para quem busca um bom hotel, bem localizado e com custos razoáveis (e tem um excelente restaurante indiano de vibe moderninha, o Eau de Monsoon), e o sensacional The Lodhi, que dá de dez nos palácios de Delhi (dele eu faço questão de falar mais num post separado).Delhi

Tremenda cidade.

 

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2 Comentários

  1. Mari, todo este relato de la vida en Delhi me parece muy interesante y fascinante, pero especialemnte el referido al Templo Sikh y su cocina comunitaria. Una cocina comunitaria que funciona perfectamente a base de voluntarios y donaciones. Esa inmensa cocina parece mucha más limpia de la que uno puede pensar (sobre todo por las dimensiones y la cantidad de comida que allí se debe cocinar).
    Adorei essas magníficas fotos de Delhi e New Delhi!
    Bravo Mari, você é uma mulher valenta!!!

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