A percepção de cidades, países e povos que visitamos é uma questão absolutamente pessoal em viagem – cada um tem a sua.
Faz tempo, coisa de adolescente mesmo, que entendi e aceitei pra vida que gosto é pessoal e pronto. A gente pode até discutir saudavelmente (e é uma delícia), mas somos seres diferentes e é mais do que natural termos visões diferentes sobre coisas e pessoas. Como minha mãe sempre defendeu em casa, o que seria do azul se todo mundo só gostasse do amarelo, né? No mundo das viagens, também sempre defendi que não existe jeito certo de viajar: existe o meu jeito, o seu jeito, e o que importa é todo mundo ficar feliz com seu estilo de viajar – ninguém viaja “melhor” ou “pior” por levar mochila ou mala de rodinhas, oras.
Como viajante (ou turista, tanto faz), sei que a percepção que se tem de um destino ou outro é também algo absolutamente subjetivo, pessoal, intransferível. Até porque nós mesmos podemos ter percepções totalmente diferentes de um mesmo destino em épocas diferentes da nossa vida: se nós mudamos (ainda bem!), nosso olhar sobre o mundo também pode mudar.
Eu amo Paris; volto sempre que posso e vivo colocando a cidade no meu caminho para outros lugares, mesmo em rotas bem pouco óbvias. Tenho tanta paixão por essa cidade desde a primeira vez que pisei lá que sempre me surpreendo quando algumas pessoas me dizem não ter gostado dela. Eu sonhava em visitar a Índia desde criança e fiz ali uma das melhores viagens da minha vida; mas muitos amigos meus sequer cogitam a possibilidade de colocar seus pés no destino. Também já contei aqui que só fui gostar de Milão depois da segunda visita à cidade; hoje sou fãzona, mas conheço muita gente que não curte. No meu olhar apaixonado, eu posso não entender certas preferências; mas eu aceito, porque as pessoas são diferentes, afinal. Se eu quero ir mil vezes a Paris e minha amiga insiste em visitar recorrentemente Miami, gosto é gosto; e tá tudo bem.
Outro dia recebi de um leitor ocasional um comentário raivoso num post sobre Marrakech dizendo que os elogios proferidos à cidade (“isso é um lixo”, bradava) eram “de pessoas que não sabem o que é bom!”. Alegando que já tinha viajado para mais de 30 países e que, por isso, seria aconselhável acreditar em suas palavras, ainda dizia que não gostava de lá porque encontrava “gente pobre pra todo lado, gente feia pra todo lado” e condenava o fato de o café da manhã de seu hotel ter azeitonas e pepinos dentre os itens servidos.
De novo, plagiando minha mãe, o que seria de Marrakech se todos só gostassem de Paris, não é mesmo? Nem sou doida por Marrakech; precisei de uma segunda viagem para entende-la por inteiro, fazer amigos locais e gostar de verdade dali. Mas você detestar um lugar porque há gente pobre e (em sua opinião) feia e porque a comida é diferente da sua é, para mim, a antítese do comportamento esperado de um viajante. Se eu quisesse comer comida brasileira todo dia não sairia do Brasil, correto? Viajar é, para mim, justamente sinônimo de experimentar coisas novas, ver novos lugares, ouvir sobre vidas e hábitos diferentes do seu, ampliar seus horizontes.
O que eu acho dos lugares, países, hotéis e atrações que visito é simplesmente minha opinião – ou, se você preferir, o meu olhar sobre eles. E acho ótimo quando leitores me mostram suas opiniões contrárias – desde que desprovidas de preconceitos. É essa a ideia de falar de viagem, afinal; é assim que a gente evolui. O que é belo para um pode ser feio para outro, o exótico para mim pode ser ordinário para você. Nem o azul que eu vejo no céu é exatamente o mesmo azul que você vê! Há que se respeitar as diferenças, entender que o olhar do outro não é o mesmo que o seu – mas saber olhar estas mesmas diferenças com outros olhos a cada vez. Eu continuo disposta 😉
Em tempo: deixei de contar países visitados há muito tempo justamente por essa mania que as pessoas têm de achar que isso confere um certo pedigree. Não acho, de forma alguma, que o fato de conhecer mais ou menos países faz de alguém uma autoridade no que é belo, ou feio, ou exótico, ou corriqueiro, ou certo, ou errado. Muito menos faz alguém mais tolerante e aberto como se poderia supor (infelizmente).
Bravo!! Onde que assino? E trate de arrumar um voo para Parrí correndo <3
Texto maravilhoso! É realmente isso, Mari.
Issaê.
Boa, Mari! o paragrafo final pra mim foi a cereja do bolo. povo bota no profile do instagram: nao sei quantos paises visitados. ok… e??? ate pq, nao da pra visitar Paris e falar q conheceu a Franca, ou visitar Berlim e falar que conheceu a Alemanha. Vc visitou uma cidade, nao um pais todo! anyway… beijoca!
No sábado mesmo, eu estava conversando com a Sílvia, do Matraqueando, sobre o quanto essa mania de contar países não significa nada… Então a pessoa que, como eu e vocês, gosta de revisitar lugares queridos ao invés de se obrigar a ir a algum lugar novo “entende menos de viagem”? E aquela que faz um périplo enlouquecido por 10 países em 1 mês vira autoridade nesses destinos?!? Bobagem, né? O importante é que cada um se divirta e se lembre sempre que, para a maioria, viajar é lazer, e não deve virar uma lista de obrigações ou tarefas a cumprir…
Bravo, Mari!
Concordo com você! Não existe jeito certo ou errado, existe o jeito de cada um!!!
Bjs
Boa, Mari!! Adoro revisitar lugares. Em abril, estive pela 6a. vez em Lima e , ao contrário de muitos, não me irrito nem um pouco em ter que negociar com o taxista o valor da corrida. O que para uns é stress, pra mim é parte da brincadeira. Gosto de não ter que ficar me preocupando com o trajeto que ele vai fazer. Por outro lado, como você disse, entendo quem não curte.
Na última vez que estive em Bangkok fiquei em um B&B muito bom, mas que só tinha opções de café da manhã que atendiam a clientela asiática. Eles ficaram preocupados com a minha cara de tristeza quando li as opções (coisas com arroz, sopa, etc..) e compraram croissant e chá só pra mim 🙂
Disse tudo Mari!!
E mais: esta divergência de opiniões e olhares (e o respeito que se deve ter em relação a isso) não se aplica somente a viagens, mas na vida e modo de viver como um todo!
Ah, e meu pai tb costumava dizer quase a mesma coisa: “o que seria do azul se todos gostassem do vermelho”. A gente cresce e percebe o quanto a frase faz sentido. 😉
Tudo o que você escreve, neste texto, é muito sábio. Há um ditado no meu país que diz: “para gustos; los colores”
Eu concordo totalmente com você. Nós temos repetido algunos paises uma e outra vez, porque sempre que voltar, nós descobrir coisas novas. Gosto de viajar muito. Mas eu também gosto de explorar maneiras diferentes de olhar a vida.
Todos os pontos de vista pode ser bons, interessantes e enriquecedores. Acho que, exceto aqueles que são contra o ser humano ea dignidade das pessoas.
Há lugares chocantes e diferentes, pode gostar o não. Mas viajar não só a gostar de um lugar. É descobrir novas perspectivas e diferentes conceitos de vida. Tenho muito pouco tempo livre. Então eu escolher a minha viagem, dependendo de que eu quero experimentar.
Minha irmã adora Marrakech e eu não sei e não posso comentar.
Mari, estava viajando em Marrocos e na Argélia por muitos anos, no início dos anos 80. Viajamos um grupo de amigos e irmãos. Alguns lugares que eu realmente gostei da área como o oásis, as montanhas do Atlas, as pequenas aldeias rurais e sítios arqueológicos da época de o domínio romano, mas o que realmente me impressionou foi a cidade de Constantina e Ghardaïa (Gardaya), em Argélia. Ghardaïa é muito bonita. Eu não sei como ser tudo isso, agora em 2015…
É exatamente assim, Mari. Conheço também algumas pessoas que não gostam de Paris e, apesar de não entender, respeito. Sempre viajo com a cabeça e o coração aberto para os lugares e acho que por isso dificilmente “detesto” alguma cidade (é claro que há exceções….). Pra mim o importante são as diferenças, as novidades. Viva a diversidade!
Gys
Zerou, Mari!
Concordo totalmente Mari! E uma das maiores belezas de “se viajar” , mas em geral de quase tudo nessa vida, está exatamente nos diferentes olhares que cada pessoa tem sobre um determinado lugar, acontecimento, até sobre o outro. A beleza está na diferença, na percepção e entendimento dessa e é na diferença que a gente aprende.
Bjus
Muito bom, Mari!
Certissima!!!